O Custo Brasil!

No último Post falamos sobre a influência das pontuações dos especialistas nos preços dos vinhos (Clique aqui). E para ser justo isso afeta apenas uma parcela muito pequena dos vinhos. Se formos analisar os motivos para preços tão elevados obviamente que o fator “carga tributária” sempre terá um dos maiores impactos no Brasil.

Bom, eu não sou nenhum especialista em tributação, apenas um mero engenheiro que bebe muito vinho, mas resolvi fazer uma análise diferente, um outro ponto de vista para medir o real impacto desses impostos em cascata. Os resultados me revoltaram ainda mais.

Então vamos lá: tomemos por base um vinho que custa 100 reais. Os valores aproximados de impostos que incidem sobre o produto estão no quadro abaixo:

Impostos sobre vinhos

Ou seja, para cada garrafa de vinho nacional de R$ 100, quase R$ 55 ficam para o governo e no importado quase R$ 75 ficam para o governo.

Se considerarmos somente isso já seria absurdo, mas a coisa ainda piora: Imaginem um assalariado que ganha R$ 10.000 por mês. Os impostos (IRPF + INSS) em média atingem até 40% dessa renda, ou seja, para pagar R$ 100 na garrafa eu preciso ter ganho (ou na verdade estou pagando) R$ 167 e o governo leva mais R$ 67.

Ou seja, o total de impostos arrecadados sobre um vinho nacional de R$ 100 sobre para R$ 122 (55 + 67) e no vinho importado sobre para R$ 142 (75 + 67).

Bom, pagar impostos não é “privilegio” somente do assalariado. O total pago de INSS por parte da empresa pode variar entre 25,80% e 31,80% dependendo do grau de risco do local de trabalho. Se adotarmos 30% para facilitar a conta teremos mais R$ 50.

Então amigos, a conta que me revoltou foi essa:

Para cada R$ 100 gasto em vinho, o governo recebe R$ 172 para vinhos nacionais e R$ 192 para vinhos importados. Bem-vindos ao custo Brasil!

moeda-mordida

Agora, só pra fechar essa análise: será que menos impostos significam queda de arrecadação? Na minha opinião possivelmente não! Eu por exemplo tomaria mais vinhos por semana, pois com certeza o custo me impede de poder beber vinhos mais vezes. E também tomaria vinhos melhores pelo mesmo preço dos atuais.

Além disso, aumento no consumo gera também gera empregos e por consequência mais impostos.

13 comentários em “O Custo Brasil!

  1. Mais uma vez apontando o dedo na ferida…é desanimador pagar 30€ na Espanha e aqui o mesmo custa 500 reais…se fosse só no campo dos ditos “supérfluos ” tudo bem, mas isso atrapalha a economia como um todo, é um mal disseminado.
    E nós pagamos os “serviços públicos”, e re-pagamos escola, seguranca, saude….até quando o Brasil aguenta sem uma guerra civil?

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  2. Ótimo Texto !! Não sabia desses valores abusivos.
    Como o amigo acima citou não temos retornos, dos impostos pagos…
    Se os impostos fossem melhores p/ o Vinho nacional, estes poderi.a ser de melhor qualidade.
    Agora acho mais do que justo comprar sem pagar imposto!! Abraço

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  3. Em parte por isso me interessei em buscar os 1os vinhos direto na Argentina, que não é muito longe de onde moro. Mas até lá os preços estão ficando ruins esse ano, e em parte acho que tem a ver com seu post anterior.

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  4. Excelente, amigo!
    Infelizmente no Brasil os governos (federal, estadual e municipal) acham que quem gosta de vinho é um esnobe endinheirado e que deve ser escorchado…eles relutam em reconhecer os benefícios do consumo — até do ponto de vista econômico e fiscal…
    Mas diria que nem só de impostos padecem os enófilos. Os custos de transporte (onerados pela nossa má infraestrutura), segurança (onde o peso da insegurança é mais um estorvo) e as margens do lucro do varejo (a velha ganância) também atormentam.
    Se a gente for um pouco além, ainda tem essa legislação de trânsito sem nenhuma margem de tolerância, em que a pessoa que gosta de beber (moderadamente) é tratada como um criminoso (parece que pior do que se fosse um usuário de drogas ilícitas…). Bom, mas isto é outro assunto. Quem sabe até mereceria uma reflexão mais ampla.
    Quanto à tributação (e aqui entro um pouco na minha área, pois sou Procurador da Fazenda), tenho que dizer que o IPI sobre o vinho é atualmente de 10% (e não 20%) e em regra as vinícolas ainda devem pagar IRPJ e CSLL. Não vou me aprofundar sobre o tema pois além de complexo, pode ser enfadonho…e revoltante! Só para se ter uma ideia, nosso país trabalha com uma separação das bebidas em frias (águas e refrigerantes) e quentes (alcóolicas) em que a maior graduação alcoólica atrai maior carga tributária.
    Exemplos de tributação de IPI (tabela de 2017, com respectivos códigos na tabela): água mineral gaseificada 4% (NCM 2201.10.00); cerveja sem álcool (NCM 2202.91.00), chope e cerveja (NCM 2203.00.00): 6%; espumantes (NCM 2204.10) e vinhos (NCM 22.04): 10%; vinhos da madeira, do porto e xerez (NCM 2204.21.00 ex01): 20%.
    Eu sinceramente acho que o vinho deveria ser tributado como alimento e não como veneno ou supérfluo. E, no mínimo, o nacional ter o mesmo tratamento e as vantagens dadas ao vinho chileno (lá e aqui).
    Mas quem quiser entrar em maiores detalhes, sugiro um estudo chamado “Mensurando a carga tributária incidente sobre a cadeia do vinho no RS”, de dois professores (um Doutor pela UFSC e outro pela ESALQ-USP), que é muito interessante e fácil de ler (até para quem não é da área). Dá para achar fácil na internet.
    Mas nem tudo está perdido. Com a reforma da lei do Simples Nacional as pequenas vinícolas vão poder ter uma tributação mais favorável a partir de 2018. Quem quiser se inteirar melhor sugiro consultar o site do IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho).
    Vamos ver se a coisa melhora com a nova legislação, embora sinceramente ainda exista muito a ser feito.
    Um abraço e parabéns mais uma vez.

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