Imaginem produzir uvas (e por consequência vinhos) em uma região onde as temperaturas podem ser inferiores a zero graus durante boa parte do ciclo. É por isso que a Viña Casa Marin se autodenomina como a verdadeira produtora de vinhos de clima frio no Chile.
A vinícola foi fundada por Maria Luz Marin (Marilu para os mais próximos), uma das primeiras mulheres formadas em enologia no Chile e a primeira mulher proprietária de vinícola nesse país, no ano 2000 e projetada para trabalhar com um conceito de vinícola boutique e familiar com uma produção atual de 150 a 180 mil garrafas por ano e administrada também pelos dois filhos da proprietária, Felipe Marin que também cuida da parte enológica junto com Maria Luz e Nicolas Marin que cuida da parte administrativa e do restaurante.
A vinícola está localizada na pequena aldeia de Lo Abarca, a apenas 4 Km do Oceano Pacífico, sendo a mais próxima do oceano em todo continente sul-americano. Devido à essa proximidade e as correntes frias de Humboldt provenientes da Antártida, as temperaturas em Lo Abarca não passam de 25 oC.
As influências de Felipe, que estudou enologia na Califórnia e na Nova Zelândia, fizeram com que os vinhos fossem separados em três linhas distintas: Cartagena, a linha de entrada e responsabilidade de ambos, Lo Abarca que são os vinhos de Felipe Marin e a linha premium Casa Marin gerenciada por Maria Luz.
Mas para chegar até aqui, Maria Luz e sua equipe tiveram que enfrentar grandes desafios. O primeiro foi lutar contra a falta de investidores, pois eles não acreditavam que seria possível produzir vinhos em uma região com essas condições climáticas. Após iniciar a vinícola com recursos próprios os desafios foram produzir algo diferente do que o Chile fazia, aproveitando-se dessas difíceis condições climáticas e para isso a seleção das uvas foi fundamental pois o ciclo de maduração das uvas é muito mais longo e as colheitas, mesmos das uvas brancas, inicia-se somente em março. São principalmente plantadas as brancas Sauvignon Blanc, Sauvignon Gris, Riesling e Gewürztraminer e as tintas Pinot Noir, Garnacha e Syrah. O Chardonnay não é plantado por não agradar Marilu.
Como cerca de 90% dos 41 hectares da vinícola estão localizados em colinas íngremes, existem existe diferentes “micro terroirs” com diferentes solos, exposição ao sol e temperatura. Devido à complexa topografia, a vinha é dividida em mais de 50 pequenos blocos, cada um exigindo sua própria gestão. As baixas temperaturas, os solos pobres e minerais (principalmente calcário com depósitos marinhos) e baixos rendimentos médios de 4 toneladas por hectare resultam em uvas concentradas, produzindo vinhos elegantes com alta acidez e baixo pH e salinidade bastante presente.
Devido ao clima dois efeitos podem ser catastróficos à produção, o fungo Botytris e o congelamento das uvas. O segundo é tratado com um sistema chamado “efeito iglu” onde um sistema de spray de água que fica sobre as parras é ligado para fazer com que a água se congele e proteja as uvas. Mas como as chuvas são escassas na região e portanto não haja muita água disponível, esse sistema não pode ser usado por muitos dias consecutivos.
A vinícola tem uma belíssima decoração de mosaicos tornando o visual único. O restaurante da vinícola hoje funciona na antiga oficina de vinhos também tem uma decoração muito interessante, baseada nas tradições locais.
Na degustação que seguiu a visita e durante nosso almoço, foram apresentados os seguintes vinhos:
Casa Marin Miramar Vineyard Riesling 2017: Uma das uvas que melhor se adaptou a região, esse 100% Riesling tem coloração amarelo-palha, notas minerais nos aromas e em boca, petróleo, e ótima acidez. Final mineral e de boa persistência. Nota 3,8 estrelas.
Vinedos Lo Abarca no2 Sauvignon Blanc 2015: Produzido da uva mais emblemática da vinícola passa 8 meses em carvalho francês de 4o uso com 13,5% abv. Amarelo esverdeado, aromas de aipo e figos verde com notas sutis de pimenta verde e peras cozidas. Em boca é fresco e bem estruturado com uma agradável cremosidade. Final mineral típico do terroir. Nota 3,8 estrelas.
Vinedos Lo Abarca no1 Pinot Noir 2015: Não é minha cepa favorita mas é mais encorpado que os tradicionais e me agradou mais que o usual. Passa 14 meses em carvalho com 14% abv. Aromas de groselhas e cerejas misturados com notas terrosas. Em boca é jovem e amplo, um vinho elegante com boa persistência no paladar. Nota 3,8 estrelas.
Casa Marin Lo Abarca Hills Vineyard Pinot Noir 2011: Ainda mais encorpado que o Pinot anterior portanto me agradou ainda mais. Passa 12 meses em carvalho francês 20% novo com 13,5% abv. Cor granada, aromas intensos de café e madeira tostada com notas florais e cereja. Em boca tem boa estrutura e corpo médio com taninos finos e notas de café, cassis e cerejas. Final longo e de bom retrogosto. Nota 4,0 estrelas.
Turismo:
A vinícola possui opções de pacotes para visitas e degustações além de um restaurente & wine bar. Há também a opção de locação de chalés para até 4 pessoas.
Todos os pacotes de visita e hospedagem podem ser consultados através do link https://www.casamarin.cl/visitandstay ou pelo e-mail hospitality@casamarin.cl
Gostei da parte que cita a dificuldade de financiamento, parece o Corinthians: contra tudo e contra todos! Trollagens à parte, parece um lindo local, ótima dica de viagem.
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Quem pagou o estádio? Kkkk
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Excelente matéria amigo!
Concordo contigo: a gente sai do Chile mas o 🇨🇱 Não sai da gente!
Se essa matéria fosse um vinho diria que tem uma coloração palha, um certo aroma cítrico; um bom equilíbrio e certo volume que agrada em boca e um final de boa persistência!
Um abraço e saúde
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Sitta, gosto muito dos vinhos dessa bodega, minha ultima garrafa do Hills Vineyard PN 2005 que tinha na adega abri aí em Sampa semana passada.
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Viña interessante didáticamente ! Como sempre bem resumidas as caraterísticas desta vinícola : a mais próxima ao pacífico da amarica latina! Mas o vinho resulta bem austero , “verde” e carente ( de calor )
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Interessante o processo deles para proteger as uvas das geadas. Não seu se você chegou a conhecer
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