Cuidado com os Pré-Conceitos – Mais uma Pequena Lição que Aprendi.

Olá,

Hoje gostaria de dividir com vocês mais uma pequena lição que aprendi com os vinhos. Não podemos criar “pré-conceitos” baseados em uma experiência única com algum rótulo, safra, tipo de uva ou país produtor, por exemplo. O vinho é vivo e se transforma com o tempo, tem variações de garrafa para garrafa, e também morre.

No início de fevereiro, durante o aniversário do professor João Rodrigues, abrimos uma garrafa do Angel’s Cuvée 2008. Trata-se de um Ripasso de Tannat produzido pela bodega uruguaia Viñedo de Los Vientos, vinícola pela qual eu tenho um enorme apreço e conheço pessoalmente sua proprietária Mariana Cerutti e seu enólogo Pablo Fallabrino, com quem tive o prazer de visitar a vinícola que não tem programa de turismo, e sei da boa qualidade dos vinhos da vinícola, como o Eolo e o Alcione (meu favorito).

Acontece que a experiência com esse Ripasso foi trágica. Um vinho fechado, com fortes aromas de estrebaria (pêlo molhado), sangue e carne de caça. Em boca tinha uma nota herbácea fortíssima, típica dos clássicos Tannats que nunca foram minha preferência, prefiro os com estilo moderno. Dada a semelhança que o vinho possuía com alguns Tannat que eu havia provado, assumi como um vinho ruim, de má qualidade, mesmo se tratando de um dos ícones da vinícola. Estávamos em cinco pessoas e todos tiveram a mesma impressão ruim.

Outro ponto que me chamou a atenção foi uma média de 4,3 estrelas no Vivino com mais de 350 avaliações mas como eu já discordei inúmeras vezes da média do aplicativo também relevei esse fato e não me ative que poderia tratar-se de uma garrafa ruim (Brett ou oxidação).

Nesse mesmo mês de fevereiro fizemos mais um encontro da nossa confraria Amigos do Vivino SP (tema vinhos do Uruguai) e o confrade Marcelo Braguetta avisou que levaria esse vinho. Imediatamente tentei dissuadi-lo da ideia revelando nossa péssima experiência anterior, mas como ele foi firme pois tinha ótimas referências gostaria de prová-lo e eu resolvi tirar a prova.

Fiquei encarregado do serviço que foi feito às cegas para os demais participantes, e para minha alegria e surpresa trata-se de um vinho excelente, com aromas de frutas maduras, ameixas passas e chocolate, frutado e firme em boca com ótimo retrogosto. Um vinho completamente diferente da primeira prova e desta vez fazendo jus ao título de ícone da Viñedo de Los Vientos. Ficou muito bem colocado na degustação às cegas frente a renomados vinhos uruguaios.

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Resultado da votação às cegas – vencedores da esquerda para direita.

Fica a lição, os pré-conceitos podem nos levar a perder excelentes experiências. E o fato é que quando aumenta nossa “litragem” nos sentimos mais confiantes em julgar por uma experiência única, o que é um erro, pois o vinho é vivo!

16 comentários em “Cuidado com os Pré-Conceitos – Mais uma Pequena Lição que Aprendi.

  1. Garrafas de vinho com defeito é algo muito mais comum do que se pensa. Saber reconhecer os defeitos do vinho evita experiências desagradáveis. Estrebaria e suor de animal não são características de oxidação mas sim de outro defeito, denominado Brett (que é a abreviação de Brettanomyces). A oxidação gera aromas de vermouth, perde a fruta, fica com odores de madeira pura e não é tão fácil de reconhecer. Muita gente bebe vinhos oxidados e não percebe. Ainda, alguns até são oxidados por confecção e agradam muito. Nosbrancos a oxidação é mais fácil de ser percebida. A cor também muda.

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    1. Muito obrigado pelo comentário Mazon, de fato muitos não percebem. Um amigo enólogo me disse que uma vez que até 10% dos vinhos podem apresentar pequenos defeitos por vários motivos, entre eles a rolha

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  2. Eu gosto desse ripasso! Tive uma experiência semelhante com o Quinta Maria Izabel! Num espaço de 3 dias sai de um vinho com um bret fortissimo e meio desequilibrado pra um belo douro com notas de frutas negras maduras e otimo na boca! Vai entender…rssss!

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  3. Belo post Sitta! Realmente o preconceito no mundo dos vinhos é algo a ser muito pensado. Além do fato de poder haver algo de errado com a garrafa, safras mudam, a boca é o nariz das pessoas são diferentes.
    Nunca havia feito uma prova às cegas, e foi muito interessante, inclusive diante desta situação, provar todos e vê-lo classificado tão bem.
    Grande abraço !!!

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  4. Sitta, excelente ponto levantado, acrescentaria o fato de que nós também temos o nosso dia, nem sempre estamos com o olfato e paladar apurados, o que muda sensivelmente a nossa percepção do vinho.

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  5. Boa, Sitta! Totalmente de acordo com sua conclusão. Acho que a litragem tem este efeito em um primeiro momento: muita gente faz afirmações taxativas sobre safras, produtores, etc. Em um segundo momento, esse excesso de confiança dá (ou deveria dar) lugar a uma postura mais humilde pois a gente acaba percebendo que há inúmeras variáveis a se ter em conta: a possibilidade de um defeito (que nem sempre é tão claro e pode variar em intensidade), o momento de evolução (como o fato de o vinho estar em una fase fechada), a necessidade de aeração e até como estamos no dia…
    Outra coisa que altem a ver com preconceitos e que vem com a litragem/experiência é reconhecer qualidades em vinhos que não são de nossa preferência – separar o gosto pessoal da análise objetiva.

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    1. Daniel.
      Perfeito amigo!!
      Tudo é aprendizado e precisamos manter os pés no chão para a análise dos vinhos pois muitas vezes tem um grande trabalho de uma equipe por trás do vinho.
      Em alguns vinhos que não gostei tenho procurado deixar bem claro nas avaliações que é gosto pessoal. Pra não influenciar os demais

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  6. Assim são os vinhos, assim é a vida! Perdemos excelentes experiências acomodados pelos pré conceitos!!! Já bebi muito vinho oxidado sem saber, e achei bom. Já o tal *Brett* não passa. Belo post amigo!

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  7. Una enseñanza que me a dejado la vida vitivinícola, lo que le paso con el primera de las botellas suele ocurrir por factores como donde se estoquea, el corcho esta fallado, las condiciones del viaje, etc. por ejemplo dejar al sol mucho tiempo la botella puede dañar el vino. Por eso recomiendo que si te “caes de la bicicleta” lo antes posible volve a subirte y andar, solo así podrás confirmar o desechar tu primera impresión. Y siempre recuerda, el vino es vida. Saludos.

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