A Compulsão por Provar Vinhos Diversificados

Olá,
Inaugurando as contribuições de 2019, trago a vocês um texto do Confrade Procópio sobre um assunto com o qual eu me identifico bastante: a curiosidade em sempre provar vinhos diferentes. Eu raramente compro duas garrafas (da mesma safra), minha filosofia é sempre conhecer o novo! Convido vocês a também opinarem nos comentários sobre essa nossa vontade de buscar o novo. Boa leitura!

Abri hoje um Alma Negra 2014, de Ernesto Catena. Enquanto me deliciava em saboreá-lo, voltei a me indagar se não seria melhor já comprar, em uma dessas promoções, umas 3 ou 4 caixas desse tinto e ir abrindo à medida em que provasse um prato que harmoniza bem com ele, o que não é difícil de acontecer.

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Isso mesmo: se gostamos muito de meia dúzia de vinhos, por que ficar buscando e provando novos rótulos? Você, como eu, deve ter sua lista de alguns prediletos que nunca decepcionam e que têm preço adequado ao seu bolso.

Lembrei-me então, de uma fase no final da década de 70, quando larguei mão do Leite da Mulher Amada – aquele da garrafa azul, o Liebfraumilch – para entrar de cabeça nos tintos chilenos. Qual era a minha estratégia para escolher vinhos na época? Comprava no supermercado, uma garrafa de Concha y Toro, outra de Santa Helena e outra se Santa Rita, ou seja, tudo o que de melhor se oferecia para o Brasil. Em um sábado, reunia alguns amigos que, como eu, pouco entendiam de vinho e, então, concluíamos que o melhor era… normalmente o Santa Rita (aquele das medalhas). Aí, eu comprava 10 caixas do eleito, caixas essas que vinham com 12 garrafas cada, ou seja, adquiria 120 unidades e ia tomando o ano todo. No ano seguinte, mesmo sistema.

Era bastante satisfatório. Mas, depois com a abertura das importações, vieram novos produtos, ampliaram-se as ofertas e passei a experimentá-las. Já não bastava o Santa Rita do ano todo; queria conhecer mais, provar vinhos de outras origens, outras cepas.  Pouco depois, em 2010, surgiu a Wine, que entregava dois ou mais vinhos por mês e dava ênfase à diversidade. Eu me associei no início da atividade da empresa e passei a aguardar ansiosamente para receber os vinhos do “Classic”. Aí, a própria Wine criou novas categorias e começou a oferecer outros produtos a preços sempre convidativos. As promoções eram viciantes.

Pouco depois, tomei contato com o Vivino, esse aplicativo que também estimula a pesquisa e o conhecimento de novos horizontes. Estou seguro de que uma parte dos usuários é incentivada a provar diferentes vinhos para poder subir no ranking.

A Internet facilitou a busca e a diversificação dos produtos, que passaram a ser oferecidos em sites diversos. Basta você fazer uma pesquisa de vinho e, já no momento seguinte, os vinhos pesquisados aparecem em outro site (adwares), oferecendo-se de forma irresistível.

Mas, isso não explica o fato de a maioria de nós estarmos sempre à cata de vinhos até então não provados. De quantos encontros participamos na ânsia de descobrir vinhos bons?

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Vou tentar uma ou duas explicações para essa compulsão. A primeira é a de que o ser humano é naturalmente voltado à descoberta. Estaríamos na Idade da Pedra não fosse essa característica própria do homo sapiens que é buscar o novo. Quantos já não se arriscaram (até a morte) para testar o desconhecido?

A outra explicação me parece muito ligada à Arte: o que é uma obra-de-arte? São várias as definições, mas, para simplificar, pode-se dizer que é aquela criação que nos impacta, nos impressiona, nos surpreende, mexe conosco. Essa é uma explicação que coincide mais com o meu sentimento em relação ao vinho: busco aquele que me surpreenda, que me desestabiliza de tão impactante, um daqueles que lhe mostra a aura e a alma.

E a finalidade última da descoberta, a meu ver, é poder apresentar aos amigos o seu achado e esperar que tenham a mesma sensação maravilhosa que você teve ao experimentá-la. Isso porque a verdadeira paixão de quem gosta de vinhos é a de poder compartilhar com os amigos as suas melhores experiências, ou seja, seus melhores vinhos.

Fernando Procópio
Apreciador de Vinhos

63 comentários em “A Compulsão por Provar Vinhos Diversificados

  1. Belo texto Procópio, realmente essa busca pelo novo, não tem fim, mas essa é a parte boa, a troca de informações e novidades sempre resulta em boas conversas e novos amigos!
    Um forte abraço!!

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  2. Muito legal, Procópio!! Eu sigo as duas vertentes, gosto do novo e gosto das coisas boas que já provei e sempre tenho em casa. Mas, a descoberta de novos sabores é muito bom!! Parabéns pelo texto!! Forte abraço !!

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  3. Parabéns Fernando pelo maravilhoso texto !!!
    Nasci numa casa de descendência portuguesa, e nos primeiros tempos e passos fui motivado por meu amigo e Pai, com 1as taças nos velhos garrafões de 4,6 lts (cabeça de touro, sangue de boi, etc), mais tarde, qdo pude comprar meus 1os vinhos; também com chilenos, me lembro do Gato Negro, Casilhero do Diaboe da garrafa azul, por aí e como disse, os que chegaram 1o aos supermercados e fazia questão de levar meus amigos em casa para partilhar.
    Mas, comecei mesmo a enveredar por este mundo qdo passei um tempo no exterior com diversificação e inovação, dai abriu-se a porteira. Tanto, procuro o novo por experiências vivenciadas por amigos, e então, o que me impacta e me impressiona, automaticamente me leva a última questão de querer partilhar com os amigos!
    Agora, fantástica a expressão “aura e a alma”.
    Parabéns, mais uma vez!!

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  4. Nilton, poder vivenciar um ambiente em que se tomam vinhos cotidianamente com certeza faz toda a diferença. Foi uma catapulta para o que você é e para o que você tem hoje. Louvo seu desprendimento de compartilhar vinhos tão bons com os amigos. Obrigado!

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  5. Que belo texto Procópio, parabéns!
    Vc citou o que acontece com muitos de nós, a jornada é exatamente essa.
    Eu gosto muito de conhecer mais e mais vinhos diferentes, gosto ainda mais de prová-los com os amigos. A escolha pela garrafa antes de um encontro ou uma confraria é um momento de pesquida e cuidado em apresentar um vinho que impacte os amigos. Isso é muito bacana!
    Abs amigo!

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  6. Procópio, excelente texto!
    Também passei por todo esse processo que você passou. Saí dos vinhos da garrafa azul para os chilenos e portugueses que encontrávamos no mercado. Só não comprava caixas para ir tomando durante o ano. Comprava quando ia beber, até porque bebia pouco.
    Eu mantenho fidelidade aos que mais me agradam, tendo sempre alguns por perto. Mas não paro de buscar vinhos que não conheço e as novidades que os amigos falam. E muitas vezes surgem vinhos que passam a ser os novos prediletos. Já encontrei muita coisa ruim nessa busca.
    Acho muito bom não ficarmos parados naqueles vinhos que já conhecemos, até porque todos nós mudamos no correr da vida e nosso gostos também.

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    1. Galdino, no post que inseri no Facebook, um conhecido que vive na Borgonha, criticou essa nossa mania. Disse que isso foi uma iniciativa dos americanos. Pode até ter sido. Disse mais: que o pai dele tomou um mesmo vinho a vida toda.

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  7. Excelente texto Procópio!!!!
    Realmente a busca por novos vinhos e sabores é viciante! Adoro descobrir novos rótulos para compartilhar com vocês!!!!
    Um grande abraço e saúde 🍷

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  8. Parabéns comendador Procópio, belo texto.
    Acho que sua história com o vinho muito se parece com a de muitos apreciadores como eu,
    Também sou viciado em novas experiências nessa área, sempre que viajo procuro por novidades e trago para compartilhar com os amigos.
    Forte abraço!

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    1. “Meus queridinhos” é uma ótima forma de expressar o que sentimos por esses prediletos, Maira. Também tenho os meus, principalmente para aqueles dias em que não quero errar. Foi o que aconteceu com esse Alma Negra da foto acima e que motivou este post..

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  9. Achei interessante demais o texto e tenho uma perspectiva complementar dessa “busca pelo novo”.

    Hoje vc vai no supermercardo e compra cada dia uma garrafa de vinho diferente dos que estão lá?

    Tem muita variedade hoje disponível no Brasil, mas não acredito que a maioria faça isso.

    Talvez até alguém faça isso do jeito que descrevi, mas a medida que você vai refinando o seu gosto, comparando entre os vinhos experimentados, você não quer provar mais qualquer coisa. Quer referências! Quer algo novo, mas que já esteja dentro do patamar de qualidade que você adotou.

    Portanto acho que não é só buscar o novo, mas é buscar o novo dentro dos seus critérios de qualidade e isso já não é tão fácil como quando começamos. A medida que o gosto se apura, o universo de opções diminui sensivelmente.

    Mas é fantástico quando encontramos algo assim. Aconteceu comigo ontem ao provar um Tokaji Furmint Seco que me remeteu a um Sémillon ou Chenin Blanc. Incrível!

    Belo texto Procópio!

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    1. Mazon, realmente, à medida em que você vai experimentando vai apurando o gosto e, aí, não há como voltar aos mesmos. E você tocou em um ponto muito interessante: experimentar brancos. Alguns de nós têm certa aversão ou preconceito contra os brancos. Um erro! Há vinhos excelentes! Também já provei essa cepa de vinhos húngaros e gostei bastante.

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  10. Parabéns pelo texto, Procópio!
    Também sou adepto da descoberta de novos vinhos e castas, raramente compro 2 vinhos iguais (a não ser os vinhos “de segurança “)
    Grande abraço !!! Salute!!!

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  11. Me arrancou um sorriso ao lembrar do Liebfraumilch!!! Já era feliz e não sabia. Rsss. Belo texto Procópio. Não me nego ao novo, mas sou do tipo de comprar os que já conheci e gostei. A indicação dos amigos também fez muita diferença nas minhas novas escolhas!!! Saúde querido!!!

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  12. Belo artigo, Procópio. Passei por todas as etapas descritas no seu texto. Comprei muito Santa Helena, Santa Rita e Liebfraumilch da garrafa azul. Me lembrei também de outros dois vinhos que faziam sucesso em casa: o italiano Duca di Salaparuta e o brasileiro Velho do Museu. Haviam poucas opções de rótulos com preços que cabiam no meu bolso. A adega do supermercado Eldorado da Rua Pamplona, de vez em quando, fazia promoções. Esse dia era especial e de muita ansiedade. Voltava para casa com muitas garrafas, porém quase todas dos mesmos vinhos. Hoje em dia gosto de pesquisar vinhos tintos, brancos, espumantes e etc… mesmo tendo receio em errar. Sempre aceito indicação de amigos e parto da premissa que os rótulos que considero bons, tem que ser degustados em boa companhia. E você é uma delas! O vinho fica ainda melhor! Saúde amigo!

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  13. Excelente texto!!! Com certeza muitos vão se identificar com a sua trajetória. Minha iniciação no mundo do vinho não foi diferente, mas minha paixão pelo vinho surgiu quando fui morar na Europa e tive a oportunidade de provar vinhos de diversas regiões e diferentes cepas. A busca pelo novo é realmente viciante! O prazer de descobrir e compartilhar essas descobertas, não tem preço! Mas gosto de sempre manter na adega vinhos que provei e amei, costumo comprar duas ou três garrafas e abrir em estágios diferentes, redescobrir o mesmo vinho é prazer em dobro! Saúde! 🍷

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    1. Nada como uma experiência no Velho Mundo, onde se tomam bons vinhos cotidianamente. Não tive essa sorte, Mercia. Mas, hoje, em viagens ao exterior, procuro aproveitar ao máximo.

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  14. Belo texto, Procópio, parabéns. Recordou-me do meu início nos supermercados, do Dioniso Club, dos cursos com o Bruno Hermenegildo…
    Eu queria entender e classificar aquela quantidade enorme de informações. Mas sempre – para beber – me refugiava nos vinhos de segurança comprados às dúzias. E ciscava cá e lá, mantendo meus limites de então. Mas com o advento do Vivino caiu a ficha: dois milhões de rótulos, 300 famílias, milhares de (verdadeiramente) conhecedores! E vieram os amigos e conhecidos – principalmente graças ao meu caçula que se tornou um dos entendidos – e que tanto me espicaçam para os horizontes como me estimulam a “litragem”. Atualmente gosto das surpresas das degustações e do conhecimento que adquiro com os amigos. Mas, confesso, não deixo de ter minhas várias meias dúzias de vinhos prediletos guardadas na adega. Ao lado de uma centena de garrafas para ficar olhando e pensando: quando será que vou abrir? Culpa de vocês!

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  15. Comendador, parabéns pelo texto, também tenho certeza que a curiosidade e busca pelo novo (que nao garante que seja bom, mas só saberemos tomando contato), é inerente à o alma humana e sem dúvida motor de nossa evolução.
    Além disso, quantas vezes também não desejamos um novo para compartilharmos com amigos/familiares queridos, sendo cumplices de nossas descobertas? Esse espírito de sociabilidade também move a busca de descobertas!
    Um grande abraço!

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  16. Nenhum ser humano será capaz de, ao longo da vida, ter a oportunidade de provar todos os vinhos disponíveis no mercado. Por outro lado, penso no vinho como uma viagem. Não se bebe só o vinho, mas a sua história, a cultura local etc. Prefiro ficar com a saudade de um Vinho q me agradou, do que permanecer preso a essa recordação, sem conhecer novos vinhos e perspectivas. Quero conhecer novos vinhos e lugares. No mundo do vinho não há fidelidade que me motive, então, estou sempre pulando a cerca. Bem oportuno o texto, parabéns Procópio e Rodrigo por abrir espaço para esse tema.

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    1. Luis Magalhães, “pular a cerca” foi ótima. As vezes, é melhor ficar na recordação pprque tentamos repetir a mesma sensação que sentimos e ela não acontece. Obrigada pela contribuição!

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  17. Parabéns pelo texto, Procópio !!
    Essa diversidade de sabores e aromas que cada terroir proporciona, tornam essa busca pelo novo um vicio, sempre a procurar da garrafa perfeita aquele que podemos dar c/ sinceridade 100pontos.
    A singularidade dessa bebida é incrível, experimentar o novo e quando conveniente repetir o “velho”!
    Abraço

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  18. Ótimo texto Fernando, novato no mundo dos vinho, ficava me indagando se estava errado em deixar de comprar mais vinhos da mesma safra, mas ao texto leva a reflexão e traz a certeza de que a descoberta do novo está aliada ao prazer de cada degustação diferente.

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    1. Você pode ser novato, mas já foi picado pela “mosquinha” da curiosidade. Eu não deixo de voltar aqueles de que gosto bastante, mas, paralelamente, vou buscando conhecer e experimentou outros. Saúde, Vicente!

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  19. Eu tive a grata felicidade de nos últimos tempos conhecer toda esta turma aúnem cima, e pra minha alegria tenho aprendido na somente com minhas próprias lições mas com aos varios amigos que aí escrevem! É pura verdade que aos meus 50 anos pude passar pelo garrafão, pela garrafinha azul, alguns nacionais que se arriscavam na época de 80 a fazer garrafas de 750 ml, e tudo isso é um aprendizado! Lógico que mesmo saudoso não compraria 10 garrafas de Sangue de Boi para ter em casa! De fato vieram os primeiros Chilenos, nossa como me lembro! Fazia as boas reuniões em casa quando morava no RJ e me reunia no sábado à noite ao redor dos dito cujos mencionados acima, CyT e seu Casa Del Diablo o máximo, e o mais interessante é um mundo que se aprende todo dia, considerando a diversidade do que se pode fazer, das fronteiras produtoras e das castas disponíveis mais a tecnologia adicionada, viverei mais 50 anos e terei alcançado pouca coisa!
    Mas em tudo o que mais tem me importado é ter comigo aqueles queridos que guardamos como uma joia e sempre estamos abrindo uma no intervalo de tantas que experimentamos! @Fernando Procópio como sempre feliz em suas publicações e Sitta com seu ótimo Blog só nos faz lembrar das boas coisas, e mostrar como o mundo do vinho é vasto e como crescemos nele!

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    1. Alex, sómente agora li seu post. Muito apropriado e me lembrou de que o melhor de tudo é essa reunião de amigos que você citou. Quantos deles vieram desses encontros e se incrustram em nossas vidas?

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  20. Excelente texto! Parece que foi escrito por mim, de tanto que me identifiquei no relato! O mundo dos vinhos é tão vasto e rico, que merece ser bem explorado! Eu, particularmente, raramente compro mais de duas garrafas do mesmo vinho! Degustar produções, das mesmas varietais, de diferentes terroir diferentes, descobrindo as diferenças sutis, é uma experiência que outras bebidas não entregam! Parabéns!

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