Amigos,
Na semana passada, eu fiz uma rápida visita em uma das minhas vinícolas favoritas, a Família Deicas do Uruguai, e tive a chance de provar lado a lado dois vinhos espetaculares de safras muito distantes: o Massimo Deicas Tannat 2015 e o Prelúdio Tinto 1999.
Não que isso seja uma surpresa, mas ambos estavam prontos para serem abertos com exatos 16 anos de diferença. Obviamente existem diferenças significativas no estilo de vinho, conforme comentou o proprietário da bodega, Fernando Deicas. O Massimo é um vinho do Novo Mundo com guarda sugerida de 10 anos enquanto o Prelúdio tem um estilo do Velho Mundo com guarda de 20 a 30 anos.
Mas se compararmos as safras 2013 e 2015 do Massimo Deicas com a safra 2010, por exemplo, vemos que a influência de Paul Hobbs (a partir de 2013) é significativa e notória. Vinhos mais prontos e minha opinião é corroborada pelo próprio Fernando Deicas.
Isso me motivou a escrever esse artigo, afinal quase tudo que provei na safra 2015, dos chamados “vinhos de guarda” está praticamente pronto para consumo.
Antes de tudo quero deixar claro que este Post não tem embasamento técnico, é apenas a minha opinião. Inclusive teremos uma sequência dessa discussão com a opinião de alguns enólogos mas, em uma enquete realizada no meu Instagram, 82% das pessoas responderam que acham que as safras mais recentes estão mais prontas que as anteriores.
Mas o que seriam vinhos mais prontos? Os vinhos que já entregam um prazer imediato ao serem bebidos jovens pois já estão bem integrados e que a guarda, apesar de melhorar o vinho, não fará a mesma diferença do que nas safras anteriores onde estavam menos integrados e complexos quando jovens.
Alguns fatores levam a uma tendência de produção de vinhos mais prontos e talvez o mais importante seja que a nova geração não tem a paciência da geração anterior. Claramente querem vinhos mais prontos e não pretendem guardar uma garrafa por 10, 15 ou 20 anos para atingir o auge. É uma geração imediatista e o mercado precisa se adaptar a esta mudança de perfil do consumidor de vinhos.
Mas, preparar vinhos mais prontos, somente é possível com as técnicas de produção que não existiam há alguns anos atrás e que permitem ao enólogo produzir vinhos com, por exemplo, taninos mais macios e mais bem integrados.
Outro fator pode estar ligado a essa mudança, é a alteração das condições climáticas com o aquecimento global e uma consequente alteração na maduração das uvas. Sendo simplista, uvas mais maduras tornam os vinhos mais agradáveis a muitos paladares, pois são mais alcoólicos (tem mais açúcar) e portanto aumentam a sensação de maciez.
Entretanto fica a pergunta: como será a evolução dessas novas safras? terá a mesma longevidade das antigas?
Ficam algumas dúvidas, pois pode haver alteração na acidez com a sobremaduração das uvas. E com a queda da acidez, a evolução ficaria prejudicada.
Isto quer dizer que colecionar vinhos ou fazer deles um importante investimento será arriscado. As garrafas “morrerão” mais cedo? Com isso, as vinícolas terão um grande desafio de mercado.
E na minha opinião, perde-se um charme importante do mundo dos vinhos que são apreciar uma boa safra antiga. Hoje tenho 45 anos e ainda tenho algumas oportunidades de beber vinhos mais velhos do que eu (como os das fotos abaixo). Será que meu filho de 8 anos chegará aos 30 com a mesma possibilidade? Talvez não, o que é uma pena!
Em alguns anos teremos as respostas. Saúde a todos!
Concordo totalmente com você mas como sou das imediatistas, comemoro.
Valorizo esses ícones prontos para ir para a taça.
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Eu também gosto Valéria. Não é uma crítica, apenas uma preocupação
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Salve Sitta! Belo tema para discussão, muito pertinente e presente em
nossos encontros.
É mais que sabido que Paul Hobbs promoveu uma revolução no consumo dos
vinhos, seja lá qual for a(s) técnica(s) utilizadas (só sobrematuração
das uvas?), com vinhos considerados “top” e prontos para o consumo.
Se ele percebeu isso como uma consequência das alterações climáticas
que estamos vivendo e fez bom uso, sem dúvida é um gênio. Podemos até
extrapolar isso para locais tradicionais, considerar se Bourdeux ou
Piemonte modificariam suas técnicas ancestrais de vinificação, ou
serão obrigadas a assim fazer pelas modificações climáticas. Talvez
por causa do clima e suas perpectivas de maiores mudanças nos próximos
anos estamos vivendo um caminho sem volta e sem duvida a modificação
nos habito de consumo serão uma realidade cada vez maior.
Voltando ao tema central do texto: como isso afeta a capacidade de
guarda? Acidez é um dos fatores (não saberia dizer se o principal)
para a guarda, mas outros também são citados na literatura, como os
compostos flavonoides (antocianinas), taninos e concentração de
álcool/acuçar. Talvez mais do que os elementos isolados, a estrutura
e equilíbrio entre esses atores seja mais importante. Se tivermos uma
redução de acidez, mas compensada de alguma forma pelos outros
componentes e estiverem em harmonia, será que haveria perda na
capacidade de guarda? Obvio que é uma ilação minha, mas talvez
possamos ter surpresa positiva ao abrir um Volturno daqui uns 20 anos.
Um grande abraço!!
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Os fatores para uma boa guarda são acidez, taninos e corpo (álcool e extrato). Com certeza poderá haver um equilíbrio mas só os anos irão dizer.
Saúde Haroldo
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É Sitta, tempos modernos. Veremos a longo prazo onde isso vai chegar. Beber vinhos velhos é um grande privilégio hoje em dia, mas veremos se a nova geração irá achar o mesmo! Belo artigo amigo!
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Valeu Alan
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A questão sobre a longevidade dos vinhos com as características influenciadas especialmente por Paul Hobbs, onde os de alta gama são produzidos praticamente já prontos, enquanto desnecessário serem envelhecidos nas adegas, só será respondida pelo tempo.
Mas certamente, a intenção ao produzir vinhos próximos ao ápice de qualidade e consumo quase imediato, é uma estratégia que objetiva conquista de mercado.
Nesta batalha comercial, o Novo Mundo fez um movimento importante, mas ainda não vimos reação do Velho Mundo, que pode nem ocorrer.
Quem viver verá…
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Luiz.
Acho que o velho mundo já está se mexendo.
Se pegarmos por exemplo o sassicaia 2015 e o Guado Al Tasso 2015 já são vinhos mais prontos.
Um amigo meu esteve em Bordeaux na Feira de Negócios deste ano e comentou que também já notou diferença.
Saúde
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Excelente e oportuno artigo, Sitta! O assunto deveras merece atenção pelas mudanças que “os prontos” estão trazendo ao mundo do vinho.
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Muito legal abordar esse assunto, Rodrigo! Grande abraço.
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Eu gosto de vinhos que já saem prontos para consumo imediato, não sei se vou estar viva para beber vinhos de guarda! Mas isso devido a uma experiência pessoal que tive… Carpe Diem! Saúde!
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Isso ai Maíra.
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Rodrigo, achei rico o conteúdo e o seu ponto vista. Gostaria de saber dentro da sua experiência, qual o tempo de guarda ideal para o Massimo Deicas Cru safras 2010 e 2011, anteriores a Paul Hobbs. Tenho algumas garrafas e não gostaria de abri-las antes do tempo. Evoè!
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Como vai Cristiano.
A safra 2011 foi a única que eu não provei desse vinho, mas a safra 2010 eu guardaria por alguns anos ainda. Esse ano eu tomei a safra 2007 e ainda daria para guardar uns dois anos
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E complementando a resposta anterior, as safras feitas por Paul Hobbs realmente estão mais prontas mas não quer dizer que ainda não possa ganhar um pouco com a evolução. Abraço
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Não tinha lido esse post ainda, acabei de achar degustando agora, em 2020 um Massimo Deicas 2015… realmente ele já está pronto…
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Show!!
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