Quinta do Crasto por Tomás Roquette

Amigos,

Como vocês devem estar acompanhando e como já mencionei em posts anteriores, nesse período de quarentena o Blog vem realizando encontros virtuais com enólogos e proprietários de vinícolas, com o objetivo de aumentar a interação entre vocês e os responsáveis pelos vinhos que consumimos habitualmente, visto que as visitas físicas continuam adiadas.

Apesar de todo sucesso dos eventos anteriores, na última quinta-feira (30/04) algo muito especial aconteceu. O Vaocubo teve a honra de receber Tomás Roquette, administrador e membro da família proprietária da Quinta do Crasto que, como se sabe, é uma das melhores e mais prestigiadas vinícolas do mundo. Muito simpático e respondendo todas as perguntas com muita disposição, ele participou por mais de duas horas da reunião, enfrentando a diferença de fuso horário Portugal-Brasil. Um marco para nosso Blog.

IMG_20200501_131333_518

História da Quinta do Crasto.

A vinícola tem uma história que remonta há vários séculos. Sua família assumiu a propriedade há cerca de 100 anos e ele e os irmãos já são a quarta geração à frente do empreendimento. Revelou que a ligação com o Brasil é muito grande, até porque a família morou no país de 1975 até 1981, quando retornou a Portugal, mas seu tio João permaneceu no Rio de Janeiro e foi quem fundou e conduz a importadora Qualimpor, que iniciou seus negócios no Brasil distribuindo os vinhos da Herdade do Esporão, de propriedade de outro de seus tios, e depois os da própria Quinta do Crasto. Além disso, Tomás tem especial ligação com o Brasil, para onde viaja cerca de três vezes por ano. Conhece o país de Norte a Sul, presente a diversas degustações. Aliás, alguns dos participantes deste encontro registraram já ter estado com ele em alguns desses eventos.

Roquette lembra que, por muito tempo, o Douro foi produtor apenas de Portos. A Crasto iniciou a produção de vinhos tranquilos (DOC) no início da década de 90. Por problemas ligados à marca, a primeira safra teve que ser totalmente exportada.

Quinta do Crasto
Tomás Roquette, administrador da Quinta do Crasto.

Hoje, a produção total da Quinta do Crasto é de aproximadamente 1.500.000 garrafas por ano distribuídas entre Portugal e outros 52 países, principalmente Estados Unidos e Brasil e a seguir Inglaterra, Suíça, Alemanha e Holanda, por ordem de importância.

Segundo ele, o vinho português atingiu projeção internacional graças à qualidade de seus produtos e empenho dos proprietários, pois, ao contrário de outros países, como Chile e Espanha, por exemplo – cujos governos dão grande contribuição às exportações – o governo de Portugal pouco faz.

A Quinta do Crasto tem o privilégio de poder produzir várias castas autóctones, que se dão muito bem em sua propriedade, como a Tinta Roriz, a Touriga Nacional, a Touriga Franca, cujo vinho Tomás estava tomando durante o encontro. Essas uvas são também utilizadas para a produção dos Portos. A única que foge à regra é a do Crasto Superior Syrah, que vem tendo muito boa aceitação e, de fato, é um vinho muito bom.

A preocupação com a qualidade é extremada, desde o Flor de Crasto até o Vinha da Ponte ou Maria Teresa, os grandes ícones da Quinta do Crasto. Com isso, acontece, às vezes, de um vinho de preço mais baixo ficar muito próximo a outro, de valor superior, mas isso é o reflexo do cuidado com que a vinícola trata todas as etapas, do manejo das videiras à produção. É, sem dúvida, um grande benefício a nós, clientes habituais.

A Quinta do Crasto se esmera também na atenção com o meio ambiente, em especial com suas vinhas centenárias, e emprega técnicas de viticultura sem recurso a produtos ou substâncias químicas. “Somos um vinícola Eco-friendly, mas não buscamos certificações porque a burocracia é muito grande e há grandes variações de exigências de país para país, em relação à certificação. Desta forma o selo orgânico poderia trazer impactos às exportações”. Até pelas características do terreno, com seu acentuado declive, as colheitas são manuais, o que, se por um lado, gera custos elevados, por outro, permite um trato mais saudável à produção dos vinhos. Portugal também é o país da Europa com maior exposição ao sol, o que também beneficia o manejo orgânico dos vinhedos.

Projeto Roquette & Cazes e Douro Boys.

Alguns dos participantes estavam provando o Roquette & Cazes. Tomás explicou que o projeto nasceu da amizade de seu pai com Jean-Michel Cazes, do Château Lynch-Bages, que se uniram para produzir um vinho que tivesse a estrutura de um Douro e a elegância de Bordeaux. Primeiramente produziram o Xisto, em 2003, que obteve aceitação praticamente instantânea. Mais adiante, decidiram criar um vinho mais acessível, o Roquette & Cazes. Tomás revela que esse é um dos vinhos que abre com maior frequência.

Sobre parcerias, ainda mencionou a do Douro Boys, que é um grupo de cinco vinícolas  (Quinta do Vallado, Niepoort, Quinta D. Maria e Quinta Vale Meão, além da própria Quinta do Crasto) que promove as qualidades dos vinhos do Douro. Eles se uniram para lançar um vinho comemorativo que tem a característica de representar as várias regiões dessa área geográfica. Uma experiência bem interessante e para quem quiser saber mais sobre esse projeto, o site está aqui: Douro Boys.

Crasto3

Novidades e Projetos para o Futuro.

O último lançamento da vinícola foi o Honore (edição única, a princípio), para celebrar os cem anos da assunção da propriedade pela família. O nome remete ao emblema até hoje usado Honore et Labore (com honra e trabalho). De um lado, um Porto Tawny, muito velho, com apenas 400 garrafas confeccionadas pela Vista Alegre em formato de decanter, utilizando o mais fino cristal soprado à mão e detalhes em prata. De outro, um DOC, com 1615 garrafas Magnum numeradas (o número de garrafas é referência ao ano de fundação da quinta, a partir de propriedades dispersas no sítio do Crasto) e que é um blend da Vinha Maria Teresa com Vinha da Ponte, com estágio em barrica por 20 meses.

Para os próximos anos a Quinta do Crasto pretende manter a gama atual de vinhos, ainda não há nenhum lançamento programado. Em relação a novos mercados ela deve passar a exportar para Costa Rica e também irá mudar seu importador atual em Singapura.

A Degustação.

Para apreciadores de vinhos, em especial os da Quinta do Crasto, foi um encontro extraordinário. Tomás, por sua vez, também registrou a satisfação de ter participado e comentou que esse encontro pelo Zoom foi uma experiência diferente para ele e muito interessante.

Entre os vinhos degustados pelos participantes, destaque para duas safras de um dos ícones da Crasto, o Vinha da Ponte (2007 e 2012), entre outros excelentes rótulos e safras da Quinta do Crasto e da Roquette & Cazes. Um dos vinhos provados, Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2014, foi o “Best in Show” do maior concurso de Portugal, onde se provam cerca de 3.000 vinhos.

Nossos agradecimentos ao Tomás e parabéns por seu trabalho.

Com a colaboração de Fernando Procópio e Carlos Mazon.

Serviço:
Quinta do Crasto – https://www.quintadocrasto.pt/
Para efetuar reservas ou obter mais informações sobre enoturismo: enoturismo@quintadocrasto.pt
Qualimport
Website: https://www.qualimpor.com.br/
Telefone: (11) 5181-4492
E-mail: informacao@qualimpor.com.br

15 comentários em “Quinta do Crasto por Tomás Roquette

  1. Sempre vejo esses vinhos em destaque nas avaliações, fico realmente me perguntando o que falta para um vinho português (que não seja do porto) receba 100 pontos RP. Eu raramente me decepciono com vinhos portugueses, e principalmente nas faixas de 80 a 120 no Brasil, acho que entregam muito mais do que os concorrentes do velho mundo….

    Curtido por 2 pessoas

    1. Excepcional essa noite que vivenciamos. Agradeço por ter tido esta oportunidade de estar reunidos com grandes amigos neste momento difícil, mas que conseguiu fazer com que tivéssemos esta Participação incrível de Tomás Roquette com sua disponibilidade, papo descontraído e largo conhecimento de seus produtos; dos quais ja era fã e agora muito mais.
      Parabéns VaoCubo e Confrades Fernando Procópio / Rodrigo Sitta pela grande iniciativa.
      Como sempre!

      Curtido por 3 pessoas

    2. São realmente otimos vinhos e o Vinhas Velhas ja tem conseguido despontar em concursos e no consumo ha alguns anos. Com relação à duvida do Marceu, acima entendo que o RP é puramente comercial e não se dedica a outros países fora do seu eixo tradicional.

      Curtido por 2 pessoas

    1. O encontro virtual foi muito agradável e o Tomás Roquette foi atencioso, educado e simpático com o grupo! Parabéns Sitta e Procópio por proporcionarem para todos, um encontro ímpar e prazeroso!

      A matéria está um primor!!!

      Curtido por 3 pessoas

  2. Eu bebi um Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2014 e fiquei deslumbrado, infelizmente o preço não me deixa que usufrua
    diariamente , como faço com outros vinhos portugueses mais baratos na faixa de 100 a 150 reais.

    Curtido por 3 pessoas

    1. Pascoal, eu provei também. Esse vinho, dessa safra ficou em primeiro lugar como “Melhor Vinho Tinto Blend 2017” (o ano do concurso). Nesse concurso, profissionais de várias partes do mundo provam mais de mil rótulos. Desta forma, o vinho que tomamos tinha que ser no mínimo muito bom. Mas, iria amadurecer mais.

      Curtido por 3 pessoas

  3. Encontro incrível, o Tomás compartilhou conosco de forma descontraída e franca toda a paixão pela produção de vinhos e nos encantou mais ainda pelo Crasto e o Douro!

    Curtido por 3 pessoas

Deixe um comentário