Terroirs do Nordeste e seus Vinhos e Vinícolas

E assim avançamos no nosso projeto e vamos desvendando os terroirs do Brasil. Já falamos da Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina, Brasília e Goiás. Agora vamos falar de novos terroirs do Nordeste do Brasil.

Quem pensa que no sertão e no semi-árido do Nordeste não se plantam uvas e nem se produzem vinhos, está enganado. Em regiões de altitudes, com solo seco e árduo para plantação, estão surgindo plantas com brix significativos para vinhos de grande potencial de guarda e consistência na sua conjuntura total.

Vamos falar de Nordeste, mais precisamente de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Regiões inóspitas, contudo, regiões com potencial bem promissor para cultivo de uvas americanas e uvas vitis viníferas.

Pouco se sabe sobre as produções de algumas regiões. Muita coisa vaga e muita informação perdida. No entanto, dentro do que podemos colher no aspecto geral, temos que existem projetos sendo desenvolvidos nas regiões de: Garanhuns – PE, Natuba – PB e Serra do Camará – RN.

Em Garanhuns já temos uma vinícola instalada com boa estrutura e que já teve a sua primeira colheita, conforme iremos tratar mais adiante, a vinícola Vale das Colinas.

Em Natuba, tem muita região crua e com produção artesanal de vinhos. No entanto com apoio de entidades que ajudam e monitoram o crescimento da região, inclusive com apoio da Prefeitura Local, e com a realização da Festa da Uva, com vários produtores locais de vinhos, uvas, geléias, e diversos artesanatos e novidades de pequenos produtores da região.

No Rio Grande do Norte, tem o apoio do SEBRAE com bastante incentivo para pequenos produtores e agricultores com projetos inovadores de cultivo irrigado para produção de uvas de qualidade. Eles já vêem conseguindo boas colheitas desde 2017, trazendo rendimento para diversas famílias que fazer parte dos assentamentos locais da região.

Esse é o Brasil crescendo no mundo do vinho e da viticultura.

PERNAMBUCO – GARANHUNS:

Na Chácara Vale das Colinas, nasce um projeto de propriedade de Michel Cavalcante. Uma vinícola extremamente bonita e arrojada, com um paisagismo sensacional no acesso de sua seda, com ar bem bucólico, que combina em tudo com o mundo apaixonado do vinho.

O projeto é resultado de uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Semiárido, em parceria com o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE). Esses órgãos estão dando todo suporte necessário no crescimento do projeto, visando que os resultados esperados sejam efetivamente colhidos.

A primeira colheita já foi realizada e iniciaram a produção da primeira safra do vinho. Um lugar lindo e de futuro, com microclima de altitude, objetivo dos estudos e dos projetos desenvolvidos juntamente com a EMBRAPA, que ainda vai dar muito o que falar.

As plantações iniciais foram de 40% da uva Muscat Petit Grain e o restante dividido entre Cabernet Sauvignon e Malbec.

Todo esse projeto foi muito bem elaborado e estudado pelos envolvidos. Os cultivos de vinhas para o estudo iniciou em Brejões, cidade próxima a Garanhuns, e chamou atenção do empresário sobre a possibilidade de estar cultivando em Guaranhuns, visto que, poderia juntar o poder do turismo da região com o Festival de Inverno que atrai sempre muitos turistas, com a produção de vinhos e de enoturismo.

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Hoje a Chácara, onde está instalada a Vinícola, tem aproximadamente 3,5 hectares de vinhas cultivadas.

PARAIBA –  NATUBA – VINHO:

Em mais um semiárido do Nordeste, temos o Município de Natuba com suas belezas, cachoeiras, cultura, folclore e a Festa da Uva, que ano após ano fica mais e mais concorrida.

Natuba, fica no Vale do Paraíba, com cerca de 10 mil habitantes. A cidade está situada bem na linha que divide Paraíba e Pernambuco. Seu desenho no mapa parece uma bota, lembrando o desenho da Itália, que nos conecta com os vinhos Italianos e toda beleza que encanta. Natuba tem hoje cultivo da uva por meio da agricultura familiar e a gastronomia, com produção de vinhos, geleias e queijos de grande qualidade.

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Nessa região bucólica, cercada por belas paisagens, muita cultura, religiosidade, com pequenas igrejas, encontramos a produção de vinhos feitos com a uva Isabel, que tem origem na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Uma casta que teve boa adaptabilidade na região, que tem uma amplitude térmica bem generosa num contexto geral, com variações de dias quentes e noites frias.

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Assim, é onde podemos encontrar o Vinho Pedra Pintada Suave ou Seco, produzido pelo Sr. João Andrade, cujo projeto vem sendo ampliado para a produção e cultivo de Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Syrah.

Outra plantação de uvas é da Sra. Roziane Egito, que tem suas parreiras para produção de geleias extremamente saborosas, com aroma da uva fresca, o sabor marcante e a textura macia.

Pelo lado do enoturismo, tem toda essa tradição da Festa da Uva com suas diversidades, e vários passeios, bares, restaurantes e demais opções da região. Uma delas é a Cachoeira da Bica Grande, que fica no Parque Municipal da Bica Grande, com mais de 77 metros de altura.

Ainda, podemos encontrar, em Natuba, mais uma das plantações de uva Isabel, na propriedade de Sr. Antônio José, que é presidente da Cooperativa dos Fruticultores da Uva de Natuba e Região. A Cooperativa gera, em volume de negócios anuais, mais de R$ 1,2 milhão por ano.

Essa é Natuba, no semi-árido do Sertão Brasileiro e do Nordeste, onde tem muita coisa para se encontrar e se descobrir. Vá visitar e se apaixone pelo local.

RIO GRANDE DO NORTE – SERRA DO CAMARÁ:

Na Serra do Camará, do lado do Rio Grande do Norte, é onde está localizada a microrregião de São Miguel, distante 445 km de Natal, que pertencente à mesorregião Oeste Potiguar, formando, com outros municípios, a Região do Alto Oeste Potiguar, também conhecida e apelidada de Tromba do Elefante.

Nessa localidade é que vem sendo plantadas e cultivadas uvas com qualidade acima da média para a região, mesmo que não tenham o clima temperado.

Todo esse projeto de desenvolver a viticultura em regiões inóspitas faz com que, teoricamente, seja difícil de se acreditar que podemos ter bons vinhos oriundos delas. Mas vem sendo desenvolvido com maestria e qualidade e apontam para um potencial de todo semiárido.

Alguns projetos desses estudos já são realidades, tais como: a região do Vale do São Francisco (situado entre os sertões da Bahia e Pernambuco) sobre as quais falamos no tópico de Terroir Baiano, representando mais de 90% da exportação de uva de mesa e a região de Morro do Chapéu e Mucugê.

Contudo, o Rio Grande do Norte, segundo estudos realizados, tem bastante potencial para o cultivo de uvas, de acordo com o projeto desenvolvido pelo SEBRAE, que vem estimulando agricultores familiares a apostarem na plantação da fruta, nas localidades de Apodi e Mossoró. Lá estão sendo plantadas as uvas Isabel, para o consumo in natura e, principalmente, para produção de sucos integrais.

O que mais surpreende é a qualidade das uvas produzidas na região, que chegam a atingir 24° Brix, que é o índice que mede o teor de doçura e de qualidade da fruta.

Hoje temos mais de 14 produtores de uvas espalhados pelos municípios de Mossoró, Apodi e outras localidades circunvizinhas. Eles recebem todo apoio e consultoria do SEBRAE, numa localidade com clima favorável a realização de até duas safras por ano.

Outra região do Rio Grande do Norte que vem sendo explorada é no município de São Miguel, na Fazenda São Gonçalo, onde está instalada a microvinícola SG Agro, que tem plantado 2 hectares de de uvas para produção de sucos e vinhos de boa qualidade, conforme já foi atestado por diversos especialistas sobre o assunto, em especial a Embrapa Uva e Vinhos, que também estiveram na vinícola e avaliaram a qualidade sensorial dos produtos, quanto à intensidade de coloração, tonalidade, aroma, equilíbrio de sabor, doçura, taninos, acidez e persistência, cujos resultados foram satisfatórios e até certo ponto surpreendentes.

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Os estudos buscando o aprimoramento da atividade ainda prosseguem, sobretudo visando à identificação dos aspectos relativos a adaptação das variedades às condições geográficas da região onde estão sendo cultivadas as castas Itália, Isabel e Niágara, para a produção de vinhos brancos e tintos (secos e suaves), além de suco integral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Esses são os novos e promissores terroirs do Brasil. Três Estados que entram no circuito com vasto potencial para produção de vinhos de qualidade extrema e produtos de grande qualidade e dedicação. Claro que falamos de modo sucinto e resumido. No entanto, buscamos englobar tudo de interessante e principal de cada região desse universo do vinho.

Ivan Ribeiro do Vale Junior.
Advogado / Sommelier / Professor / Escritor
WSET / ISG / FACSUL / UFRGS
@duvalewinetasting

9 comentários em “Terroirs do Nordeste e seus Vinhos e Vinícolas

    1. Sem dúvida Wilson. Pena que as informações são pouco divulgadas. Depois da pandemia vou visitar essas regiões e descobrir mais de perto tudo que vem sendo produzido. Abraços.

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