A “Maldita” Expectativa!

Olá,

Antes de mais nada peço desculpas pela palavra forte no título, mas é um maldita entre aspas…

Esse tema surgiu hoje, em conversa com um dos meus amigos do vinho mais queridos, o Hélio Zveibil, que me contou que ficou um pouco decepcionado com sua prova do Nosotros Malbec 2014.

Isso me gerou um certo desconforto visto que fui eu que indiquei o vinho, e não estamos falando de um vinho barato. Mas depois ele me explicou que era uma questão de expectativa e nas palavras dele me disse: “se tenho uma dada expectativa sobre um vinho e ele não entrega o que eu espero, me decepciono”.

Bom, eu sou igual a ele e aposto que você também é. Quem, amante dos vinhos, nunca passou pela experiência de ter uma enorme expectativa em um determinado rótulo, talvez esperar um bom tempo para conseguir comprar ou achar que estava pronto para “tirar” da adega, finalmente conseguir provar esse determinado vinho e acabou se decepcionando com a prova?

Por outro lado, quem nunca abriu um vinho desconhecido, sem grandes pontuações ou referências e portanto, sem grandes expectativas, e acabou encantado com o vinho?

Expectativa

E sabe o que é mais engraçado? Talvez um ou dois rótulos em cada dez que criamos grande expectativa de fato não agradem, e no máximo um ou dois em cada dez desses vinhos “despretensiosos” encantem. Mas qual é a experiência que fica marcada? Pois é, por incrível que pareça, somos marcados pela minoria das ocasiões.

Talvez porque já estejamos acostumados à grandes provas de grandes vinhos ou porque não é tão usual ser surpreendido por vinhos de menor renome, principalmente hoje em  dia em um mercado tão especializado e com tantas trocas de informações.

Mas de fato é a “maldita” expectativa que criamos.

Recorri a psicologia para tentar explicar nosso sentimento:

Nascido em 6 de maio de 1856 na Áustria, o neurologista Sigmund Freud é considerado o “fundador” da psicanálise e foi responsável por popularizar o método de tratamento psicológico através do diálogo entre paciente e médico, tão comum hoje em dia.

Em alguns de seus trabalhos propostos durante a década de 1920, Freud sugeriu que a mente humana é dividida entre o Id, Ego e Superego: o primeiro representa o inconsciente completo, parte impulsiva da psique que, durante a infância, proporciona apenas as capacidades básicas. O Id citado pelo psicanalista é formado pelo princípio do prazer, que busca preencher vontades sem considerar qualquer aspecto da realidade (expectativa). O Ego observa que nem sempre nosso Id é capaz de obter aquilo que deseja, já que essa expectativa pode por vezes causar problemas. Em outras palavras, nosso Ego existe para sempre levar a realidade em consideração. Também é papel do Ego ponderar as exigências do Id e o aspecto autocrítico do Superego, que surge a partir dos cinco anos e compõe a parte moral da mente humana.

Quando depositamos muitas expectativas em coisas ou pessoas, corremos o risco de nos frustrar. Mas por outro lado, não dá para viver sem expectativas, afinal são elas que dão sentido à nossa vida.

Então meus amigos, o ideal é nos prepararmos para diferentes resultados que possam ser vislumbrados, controlando as expectativas exageradas e aproveitando ao máximo a experiência, vinho após vinho.

Ainda mais em uma coisa que é viva, como o vinho, que muda a cada garrafa e as vezes a cada gole, que está sujeito ao transporte, ao armazenamento, ao momento ideal da curva de evolução, a uma simples rolha, entre tantos outros fatores.

Mas pera aí, qual seria a graça da coisa sem desejar, imaginar e até fantasiar um grande vinho?

É, não tem resposta! Vale a experiência! Afinal de contas, algumas expectativas se tornam realidade!

E aproveito para dizer ao meu querido amigo Hélio, que vem vencendo uma grande batalha pessoal, que acima de tudo é um grande alívio ouvir dele que se decepcionou com algum vinho, e que eu espero que ele se encante com muitos e tenha algumas decepções com outros por muitos e muitos anos!

Saúde Hélio! Saúde amigos!

36 comentários em “A “Maldita” Expectativa!

  1. Que maravilha de artigo amigo Sitta!
    Pois então, nos frustamos muito no dia a dia pelas nossas expectativas… não só as nossas, mas pelas expectativas que terceiros colocam e nos apropriamos sem necessidade alguma, e no mundo do vinho não é diferente.. existe muito isso, quantos influencers vínicos existem por ai pontuando os mais variados vinhos que nem merecem altas pontuações? E vão levando milhares de pessoas a provarem vinhos que nem merecem tanto mérito!
    As expectativas e frustrações estão ai mesmo para o crescimento pessoal de cada um… crescemos com os reveses, e no maravilhoso mundo do vinho cada revés significa um desafio em experimentar, experimentar e experimentar sempre… ai sim, após provar muito e muitos vinhos podemos dizer o que vale a pena e o que não vale a pena!
    Enfim… provemos mais e mais vinhos!!!
    Cheers!!!!

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  2. Belo texto, Sitta. Interessante, divertido e erudito!

    Obrigado pela parte que me toca, você está sendo muito gentil!

    No próximo papo eno-analítico com você irei melhor preparado: — já fui ler o Princípio da Incerteza de Heisenberg para achar algum outro substrato científico onde apoiar as expectativas que antecedem o espocar de uma rolha, rs…

    Grande abraço, amigo!

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  3. Belo texto, Sitta. Interessante, divertido e erudito!

    Obrigado pela parte que me toca, você está sendo muito gentil!

    No próximo papo eno-analítico com você irei melhor preparado: — já fui ler o Princípio da Incerteza de Heisenberg para achar algum outro substrato científico onde apoiar as expectativas que antecedem o espocar de uma rolha, rs…

    Grande abraço, amigo!

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  4. Belo texto. Surpreender-se ou decepcionar-se é parte do jogo. O importante é ir provando e, quando vem, a surpresa positiva, as eventuais decepções são esquecidas. Um grande abraço ao Hélio e espero em breve espero poder rever todos os amigo e brindar a vida.

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  5. Muito interessante esse assunto, Sitta! Esse tema faz parte da vida de todos nós amantes do vinho que, na vontade de evoluir, vamos criando expectativas baseadas nas “dicas” de quem “sabe mais que nós”. A verdade é que o gosto é muito pessoal. Dai, a necessidade de provar, e provar sem pretensão, para achar o que realmente nos agrada em cada momento dessa caminhada de aprendizado. Sigamos provando!!!

    Abraço

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    1. Paulo,
      O gosto pessoal é o principal motivo para que eu rejeite o termo wine influencer. Sem contar que muitas das avaliações de alguns desses famosos tem um fundo financeiro por trás.
      Melhor se basear no gosto dos amigos que você saiba que tem seu perfil.
      Abraços

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  6. Eu crio expectativas sempre. As vezes quebro a cara, mas amo quando os vinho superam as expectativas que criei. Isso falando dos grandes vinhos. Dos que não criamos e superam, é uma dádiva! Abs amigo!

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    1. Não tem muitos no Evino, vai por mim kkkk
      Agora falando sério, já ´provamos nos encontros alguns vinhos surpreendentes! Isso alegra a alma

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  7. Impossível não criar expectativas, e na minha opinião o que “tira” um pouco da expectativa e trás a realidade é provar as cegas. Me recordo de uma noite de confraria (foram poucas, sou novo nesse mundo) onde trouxemos um catena zapata, purple angel e um domus, que foram os vinhos de mair valor que eu havia provado até então. Para tirar um pouco a tendência em escolher a uva ou rótulo que mais agradava, fizemos as cegas e o resultado foi bem interessante. Mais legal que se surpreender negativamente é se surpreender positivamente com um rótulo menos pomposo.

    Forte abraço!

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  8. Ja passei muitas vezes por isso. Aquele grande e caro rotulo com o qual me decepcionei. E aquele rotulo que não dava nada e me surpreendeu. Foi assim com o almaviva e o chadwick. Talvez por serem jovens nao sei. Mas esperava algo muito melhor. Sao otimos com certeza, mas a expectativa “maldita” atrapalhou e muito.

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  9. Muito bom o texto, tema muito interessante e provocativo, como se percebe pelos comentários já lançados aqui pelos amigos apreciadores de vinhos. Em setembro de 2017, fomos jantar – você, Aluísio Leibanti, Antonio Nunes e eu – no J Gastronomia, em Puerto Iguazu, e levamos uma garrafa de Estiba Reservada 2005, lembra-se? Abrimos na maior expectativa e … me decepcionei. O Antonio Nunes levantou-se e foi escolher um vinho na gostosa adega do restaurante: um Durigutti Familia 2008. Um vinhaço impressionante, mil vezes mais barato e sem contar nem de longe com a fama do vinho da Catena.

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    1. Pois é, não posso dizer que me decepcionei com o Estiba Reservada mas posso dizer com absoluta certeza que me encantei com o Durigutti Família, que alias provei várias vezes e sempre me encanta.
      Quando mais nome, maior a expectativa!

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  10. Adorei tuas palavras Sitta. Eu sou uma pessoa movida a planos e sempre cheia de expectativas. Nem preciso dizer quantas boas surpresas e quantas frustrações pelo caminho. Mas quanto aos vinhos, realmente empolga no dia que abrimos aquela garrafa que vamos deixando para depois pois não deve ser nada demais, e ela nos encanta.
    Vamos
    Continuar mantendo expectativas sempre.

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  11. Bem interessante o conteúdo Papito. Quem nunca se decepcionou com algum rótulo né. Eu também já tive muitas surpresas com vinhos desconhecidos porém espetaculares. Saúde.

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  12. Belíssimo texto amigo Sitta! Um tema instigante que me trouxe a memória muitas expectativas frustradas como aconteceu com o querido Hélio! O bom é que também relembrei de vinhos e momentos em que fui surpreendido por esperar menos e receber bem mais! Fixei mais nesses! Mas sempre terei expectativas, boas ou não, pelo que ainda não conheço! Parabéns amigo pelo belo tema!!

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    1. Amigo Toni,
      O importante é poder provar sempre, conhecer o novo!
      Muitos vão agradar, outros nem tanto, mas o mundo dos vinhos é repleto das boas surpresas!

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  13. Sitta,
    Que texto interessante.
    Gostei demais.
    Imagina como é uma pessoa cheia de ansiedade, criando sempre muitas expectativas e por vezes acabando frustrado.
    Segredo é continuar sempre criando novas expectativas.
    Se a vida permitisse rascunho talvez apagaríamos o que gerou a frustração e fizéssemos diferente.
    Como não permite rascunho, é viver buscando sempre com boas expectativas e ótimos vinhos.

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  14. Eita ! Falei semana passada com um amigo sobre o Sofita 2011, prove e deixei evoluir em decanter, é um otimo vinho, elegante mas…eu esperava um pouco mais!, e tive um surpresa positva com o Val de flores “barato e otimo” Bela Materia Rodrigo !!

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