Por Ivan Ribeiro
Vamos continuar com os estudos relacionados aos vinhos do Brasil, e para conhecer melhor os diversos terroirs brasileiros, é necessário conhecer o processo da dupla poda. Uma forma que vem sendo praticada em alguns terroirs do Brasil e que tornou possível a existência do cultivo de uvas nessas regiões.
Tecnicamente, de acordo com pesquisas que realizei sobre os estudos que envolvem as podas da videira, podemos dizer que existem hoje em dia, de modo geral, dois tipos de poda: a poda verde (poda de verão) e a poda de inverno (dupla poda).
Contudo, dentro da poda, temos outras situações que valem à pena tratarmos sobre o assunto aqui no artigo. Vamos falar dos tipos de poda da videira, que podem ser de implantação, formação, frutificação e renovação, realizadas em função da idade da mesma.
A poda de implantação, seria exatamente a poda realizada na muda antes dela ser plantada, para que sejam encurtadas as raízes que se quebraram no transporte da mesma, bem como a redução das gemas do porta enxerto, para duas ou três gemas apenas, como uma forma de já conduzir a videira dentro do que se pretende dela.
A poda de formação, tem por finalidade encaminhar a videira para o sistema de sustentação adotado no plantio. Devendo ser colocada em prática a formação da planta desde o início da brotação. Normalmente, a poda de formação é concluída até o terceiro ano. A poda de formação adequada proporciona maior facilidade para a realização da poda de frutificação.
A poda de frutificação ou poda de produção, tem como objetivo a preparação da videira para a produção da safra seguinte, eliminando determinados sarmentos mal localizados ou fracos, deixando a planta apenas com a presença das varas e/ou esporões desejados, limitando a carga das gemas ao máximo que se deseja de produção da videira, melhorando a qualidade das uvas produzidas.
Já a poda de renovação, como o próprio nome já diz, consiste na renovação da braços e cordões da videira, à fim de que renasçam novos e mais fortes e eliminando aqueles que, por ventura, foram afetados pelo clima, doenças, pragas, danos mecânicos e etc, realinhando e redesenhando a videira para que possa ter sido conduzida de forma diversa da desejada com a realização de podas constantes e tudo mais.
Assim, temos que a poda verde serve como meio de complementar a poda seca da videira, para melhorar o equilíbrio entre a vegetação e os órgãos de produção, consistindo na realização da desbrota e esladroamento (consistem em suprimir as gemas, os brotos e os ramos que se desenvolvem nos troncos e nos braços e os ladrões que se desenvolvem no porta-enxerto, eliminando o risco de doenças fúngicas como o míldio e a podridão), desfolha (consiste na eliminação de folhas da videira, principalmente as situadas próximas aos cachos, o que aumenta a temperatura, a insolação e a aeração na região dos cachos, o que irá melhorar a coloração e a maturação das bagas, como a consequente redução da incidência das podridões do cacho) e desponta de ramos, quando forem verdes ou herbáceos (que consiste na eliminação de uma parte da extremidade do ramo em crescimento e tem os seguintes efeitos: fisiológico (o que irá diminuir a incidência do desavinho), prático (facilitando a penetração de materiais e de produtos fitossanitários, o que não seria possível com a densidade alta de folhagem), melhorar as condições de insolação e de aeração (através da redução da sombra, acrescentando melhoria ao microclima da planta) e também ajuda a evitar outras doenças, como míldio e deve ser realizada sempre durante o período de floração.
Constituindo assim os principais objetivos da poda verde, que são: dar direção no crescimento vegetativo para as partes que formarão o tronco e os braços, eliminando as partes que não irão agregar nada nessa constituição; diminuição das partes que foram estragadas pala ação do vento; e, por fim, por à mostra o dossel vegetativo para que este possa expor as folhas mais favoravelmente à luz e ao ar.
Tudo do que falamos acima, ocorre na poda normal de verão, onde os vinhedos e as cultivares são preparadas para a produção, ocorrendo a primeira poda dela em agosto e setembro.
Já a Dupla poda, é a técnica introduzida e desenvolvida no Brasil pelo Engenheiro Agrônomo, que viveu mais de 12 anos na França, Murillo de Albuquerque Regina, que juntamente com a equipe da EPAMIG veio implantando e estudando toda essa sistemática, que provoca a mudança natural do ciclo da videira, desviando o período de maturação da uva para o inverno.
Assim, a técnica consiste na realização do primeiro corte dos galhos da videira em setembro para formação de ramos e o segundo, em janeiro ou fevereiro, para produção. Uma descoberta que tornou possível a realização e produção de vinhos finos e de qualidade nas regiões do Sudeste e do Centro-Oeste do país. Conforme já vimos e mencionamos por diversas vezes nos nossos artigos publicados sobre os Terroirs do Brasil.
Já no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Vale do São Francisco, é feita uma poda só, de produção, em agosto ou setembro, mesmo com a produção grandiosa na região da Bahia, não tem a utilização da dupla poda, apenas da produção em larga escala, graças à possibilidade de irrigação e direcionamento das colheitas.
A dormência dos vinhedos no Centro do país acontece no verão, despertando, depois do carnaval através do uso do Dormex (cianamida hidrogenada), um estimulante cujo objetivo é uniformizar a brotação das gemas, que deve ser aplicado sempre após a poda de formação e de produção.
Desta forma, teremos as fases de crescimento, maturação e colheita da videira, que normalmente seriam durante a época de chuvas, na primavera e no verão (entre agosto e março), passando a acontecer durante a seca, entre o outono e o inverno, indo de abril a julho, por vezes até o mês de agosto.
A dupla poda, também chamada poda invertida, é a inversão do ciclo produtivo da videira, alterando para o inverno o período de colheita das uvas destinadas à produção de vinhos finos. O que vem acontecendo em diversas regiões de novos terroirs do Brasil, com o desenvolvimento de vinhos de qualidade e produção de altíssima gama.
Tudo isso, deve-se a melhor qualidade das uvas geradas pela dupla poda, que guardam mais polifenois e nutrientes de modo geral, conforme estudos publicados pela EPAMIG, que vão resultar em vinhos mais ricos em toda a sua estrutura. Existe uma expectativa de modo geral no crescimento da produção dos vinhos de inverno, que levaram a criação de um selo de qualidade “vinhos de inverno”, através da Associação dos Produtores de Vinhos de Inverno (Aprovin), que foi fundada pelo Sr. Murilo Regina, também atual Presidente.
Desta forma, e em linhas gerais seriam essas sistemáticas aplicadas dentro sistema de poda e dupla poda. Claro que não adentramos aqui em assuntos mais técnicos e específicos sobre as gemas, braços, portaenxertos, escolhas da poda, e demais especificações, que dependem de solo, clima, tempo, localização e estudos para que possam ser identificadas as melhores condições e a época ideal para realização das podas dos cultivares.
Top meu amigo! muito bom!
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Valeu meu amigo!! Abraços.
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Muito bom, Ivan e Sitta! Abraço!
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Valeu, Tiaraju!! Abraços.
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Rapaz, muito bacana a parte técnica. Parabéns, Ivan. Belo texto.
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Muito obrigado, Wilson!! Abraços.
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Um artigo muito consistente! Parabéns Ivan! Instrutivo demais!
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Obrigado meu amigo querido!! Feliz com seu comentário!! Forte abraço!!
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Belíssimo artigo, me caro Ivan. Tema muito atual e pertinente. Sua abordagem é muito bem embasada tecnicamente. Parabéns.
Com relação aos vinhos produzidos usando essa técnica, ainda é muito cedo para identificar um padrão e não me atrevo a faze-lo. Alem disso, outras variáveis impactam no produto final, como solo, a forma de vinificação, etc. Tudo é muito novo e seus artigos ajudam muito na nossa formação do entendimento.
Aguardando desde já os próximos. Um grande abraço !
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Gratidão Mestre Nahas!! Realmente amigo é tudo muito jovem ainda. Tem muito por ser estudado e avaliado ao longo de muitos anos.
Vamos estudando, degustando e conhecendo mais o Brasil e os vinhos que tal prática pode nos oferecer. Abraços amigo.
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Muito interessante. Confesso que achei que essa técnica era meio que uma “exclusividade” da Guaspari!
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Obrigado Marceu!! O inventor da técnica é o dono da Vinicola Primeira Estrada!! Abraços amigo
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Muito bem explicado. Parabéns!!!
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Obrigado, Valerinha!! Abraços.
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Gostei do artigo, vou experimentar na minha pequena vinha localizada em Paiquerê, distrito da cidade de Londrina, norte do Paraná !…
Ano passado tive a oportunidade de processar um bom Tannat!…
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Boa sorte!!
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Que maravilha!! Boa sorte e vale à pena fazer o teste. Adoraria conhecer esse Tannat!! Abraços e obrigado pelo comentário!!
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