O Vinho e o Cacho de Bananas

Por Fernando Procópio Ferraz

Estou aqui provando um Petit Fleur Malbec 2018, da bodega Monteviejo, aquela que produz vinhos extraordinários e que tem como ícone o La Violeta. Este Petit Fleur não foge à regra. É um rótulo de entrada, mas… Estava desprevenido e, de repente, uau! Que vinho é este? Fui pego de surpresa.

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O mestre Marcello Pelleriti é nada menos do que enólogo chefe também do Château le Gay em Pomerol, Parece que não precisaria dizer mais nada sobre a sua competência. Mas, essa competência vai além, porque o que é bom para a França não necessariamente é bom para a Argentina. Só que ele se sai muito bem em ambos os países. E há que se dizer que foi o primeiro argentino a receber nota máxima de Robert Parker: 100 pontos! Ich! Não foi da Argentina: o reconhecimento veio com o Chateau La Violette 2010, produzido em Pomerol e avaliado pelo próprio Robert Parker. Nada mal, hein?

O que me chamou a atenção durante a live que o blog Vaocubo promoveu com ele, foi o seu lado artístico. É um homem profundamente ligado à música, apaixonado por Rock and Roll.

Ele promove nos verões um evento que reúne música e vinho: o Monteviejo Wine Rock, na própria vinícola. Nosso grande amigo Damián Maskin já teve o privilégio de participar.

O que quero ressaltar é que, nessas lives do blog VaoCubo, muitos enólogos mostraram ter profunda ligação com as Artes.

 

O mistério da Arte – que remonta ao “homem das cavernas”, com as pinturas de Lascaux, por exemplo – não é facilmente desvendável.

Porém, vejo algo em comum nas duas manifestações do Ser Humano e que, no caso das Artes, é reconhecido já por alguns estudiosos: é o impacto, é a sensação de desestabilizar quem a admira. Vamos dizer de outra forma: é um soco no estômago, que tira a respiração.

Estava eu sozinho há anos no MoMa de Nova York e procurava por uma obra  de Jasper Johns que havia sido exibida há tempos na Bienal – um óleo sobre tela da bandeira americana cuja textura parecia um creme delicioso, com muito volume, que poderia ser lambida. Sensação incrível. Fiquei obcecado por ela desde aquela exposição. Nessa procura, virei uma esquina de um corredor e me deparei com uma estátua de Rodin, meio gigante, creio que retratando Balzac. Um impacto indescritível.

Pois é! Para mim, a Arte e o vinho têm muito a ver com essa sensação de surpresa, de emoção, de susto! Por isso, é tremendamente apropriada para certos rótulos a expressão do mesmo Damián: “emociona!”.  

Mas, não é só um Rodin ou um La Violeta que é capaz de me fazer arrepiar. Aqui em casa temos algumas boas obras. Mas, provando esse Petit Fleur, comparei-o a um trabalho artesanal em madeira de um cacho de bananas que compramos há anos em Ubatuba. Tremenda obra de arte! Ambos, são “vinhos de entrada”, mas nem por isso, deixam de ser espetaculares.

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Saúde!

Fernando Procópio
Apreciador de Vinhos

 

7 comentários em “O Vinho e o Cacho de Bananas

  1. Realmente os vinhos da Monteviejo são diferenciados, uma surpresa após outra!
    Não conhecia essa paixão pela arte por parte dos que administram essa conceituada Bodega. Sempre muito bom saborear ótimos vinhos e saber que por detrás deles existem inúmeras historias e causos para contar.
    Belo artigo amigo Procópio.
    Grato pela partilha!

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  2. que texto sensacional, comecei imaginando que teria sentido aroma de cacho de banana em algum vinho, e me deparo com uma matéria tão leve e gostosa de ler. Parabéns Fernando, sensacional!

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