Por Renato Nahas
Dando sequência ao meu último pots onde falei um pouco sobre os vinhos e as vinícolas de Santa Catarina, vamos falar mais a fundo da Thera.
+ Retomando as Viagens: Vinhos de Santa Catarina, a Primeira Parada.
O projeto da Vinícola Thera ultrapassa a produção de vinhos e avança sobre o enoturismo.
Localizada no município de Bom Retiro, apesar da distância de 130 km de São Joaquim, consome 2,5 horas de carro, em função da estrada de mão única repleta de curvas e, principalmente, pela grande quantidade de caminhões transportando produtos da dinâmica agroindústria local. Dessa forma, fica “fora de mão” para quem pensa num roteiro de visitas às vinícolas locais. Em contraste, em São Joaquim, num raio de pouco mais de 20km é possível visitar várias vinícolas.

Mas como diz o ditado, “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”. Há um projeto para construir, no entorno da vinícola Thera, um dos maiores polos de enoturismo no Brasil. Hoje, junto com 20 hectares de vinhedo há uma pousada com 16 quartos e um restaurante e winebar. Mas encontra-se em construção uma cantina para vinificação, outro restaurante, além de um clube, condomínio de casas, centro de convenções, espaço cultural, dentre outros atrativos.
Aliás, a trajetória da vinícola Thera é curiosa. A foto abaixo retrata o primeiro vinhedo de uvas viníferas da Serra Catarinense. E é lá que foi plantada.

A vinícola está localizada na fazenda Bom Retiro que pertencia ao Sr. Manoel Dilor Freitas, fundador da Vinícola Francioni. Segundo consta, era lá que ele pretendia construir sua vinícola, mas em função da distância e apostando que os arredores de São Joaquim seriam mais favoráveis ao enoturismo, decidiu abandonar a ideia. Lá deixou 20 hectares de uvas viníferas plantadas, que por um bom tempo eram utilizadas nos vinhos da Vinícola Francioni.
Após o falecimento do Sr Dilor, a fazenda passou para a propriedade de um dos filhos, que decidiu retomar o projeto de uma vinícola. O nome Thera é uma homenagem a matriarca da família. Inicialmente os 20 hectares de vinhedos foram recuperados, atingindo hoje uma área de 16 hectares. A proposta é buscar uma produção pequena e de baixo rendimento. A produção total é de aproximadamente 60 mil garrafas por ano.
A linha de produtos é pequena. Tem um bom Rosé, numa belíssima garrafa, inspirada nas mais belas embalagens da Provence que é, aliás, o estilo que esse vinho se propõe a seguir. Tem como uvas a Merlot, Cabernet Sauvignon e Syrah. É produzido pelo método de prensagem direta, com pouco tempo de contato com as cascas. No nariz é limpo e com boa fruta. Tem uma ótima acidez e uma média para baixa intensidade de sabor. Não tem a delicadeza dos melhores exemplares de Provence, mas é sem dúvida um dos melhores Rosés brasileiros que já provei.
Nos Brancos a dupla Sauvignon Blanc e Chardonnay predominam. O Sauvignon Blanc tem uma fruta pura e ótima acidez, mas falta corpo. Como já disse anteriormente, o Chardonnay foi o meu preferido. Provei a safra 2017 (gostei muito), a 2019 (médio) e a 2020, que me pareceu muito promissora.
Com relação aos Tintos, o ponto de destaque é que não tem Cabernet Sauvignon, o que não é usual na região. Ou seja, começou muito bem! O Madai é o vinho de entrada, um blend de Syrah, Malbec, Merlot e Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Simples, correto e com boa fruta. Thera Merlot (90% Merlot e 10% CF) me decepcionou. Vinho correto, mas encorpado e tânico. A grande surpresa ficou por conta de dois rótulos com uvas italiana, que estão indisponíveis para venda em função da baixa produção. O melhor de todos um blend de Sangiovese com Montepulciano. Com uma fruta vermelha limpa, notas terrosas, acidez espetacular e corpo e álcool médios, o estilo sinaliza o melhor caminho para a região seguir. Na última safra não houve produção de Sangiovese suficiente e o vinho foi engarrafado apenas com a Montepulciano. Sem a Sangiovese, o vinho perdeu um pouco da fruta e elegância, mas ainda assim agradou.
Quanto aos espumantes, há dois rótulos, o Auguri Blanc de Blanc, outro vinho correto e bem-feito. Mas a boa surpresa foi o Nature, ainda indisponível para venda, elaborado pelo método clássico, com a segunda fermentação na garrafa e que, desde já pode ser relacionado entre os melhores do estilo no Brasil.

Recomendações para visita
A região vinícola de Santa Catarina ainda não possui uma infraestrutura robusta para receber os “enoturistas”. A maioria das vinícolas está localizada nas proximidades de São Joaquim. Mas a rede hoteleira e oferta de restaurantes, salvo honrosas exceções ainda é bastante incipiente.
Neste contexto a Thera desponta com uma ótima opção para se hospedar e curtir os vinhos e as belezas naturais da região. Recomendo muito .
Renato, esse blend de Montepulciano e Sangiovese só consegue tomar em visitas?
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