Amigos,
Na última semana, no primeiro evento presencial do Blog Vaocubo de 2022, tivemos a oportunidade de degustar os quatro ícones da Bodega Rolland da Argentina: Mariflor Camille, Mariflor Arthur y Theo, Mariflor Raphael e Mariflor Giulia, em uma degustação às cegas, lado a lado.
Foi uma degustação bastante especial, que vamos detalhar mais a seguir. São vinhos fora de série, feitos sob rigoroso cuidado e que trazem toda a potência do Vale do Uco.
Mas antes, vamos falar um pouco mais sobre Michel Rolland e seu projeto na Argentina
Sobre Michel Rolland
Nascido em 24 de dezembro de 1947, em Libourne, na França, o prestigiado enólogo que fez carreira em Bordeaux, atua como consultor e tem centenas de clientes em mais de 15 países, influenciando o estilo de vinho em todo o mundo.
Vindo de uma família de produtores de vinho, Rolland cresceu na propriedade da família, o Château Le Bon Pasteur, em Pomerol. Após o colegial, Rolland se matriculou na escola de Viticultura e Enologia Tour Blanche, em Bordeaux, com o incentivo de seu pai. Aplicado em seus estudos, ele foi um dos cinco alunos escolhidos pelo diretor Jean-Pierre Navarre para avaliar a qualidade do programa em relação à do prestigiado Instituto de Enologia de Bordeaux. Rolland mais tarde se matriculou no instituto, onde conheceu sua esposa e colega enóloga, Dany Rolland, e se formou como parte da turma de 1972.
No instituto, Michel Rolland estudou sob a tutela dos renomados enólogos Pierre Sudraud, Pascal Ribéreau-Gayon, Jean Ribéreau-Gayon e Émile Peynaud. Rolland disse que esses homens foram uma grande influência sobre ele e os considera os “Pais da Enologia Moderna”, sendo esse último (Peynaud) seu grande mentor, a quem sempre admirou profissionalmente e como pessoa e sempre visitou mesmo depois de aposentado até seu falecimento.
Em 1973, Rolland e sua esposa compraram um laboratório de enologia na margem direita de Bordeaux, na cidade de Libourne. Eles assumiram o controle total do laboratório em 1976 e o expandiram para incluir salas de degustação. Em 2006, o laboratório de Rolland empregava 8 técnicos em tempo integral, analisando amostras de quase 800 vinícolas na França a cada ano.
Atualmente Rolland é um dos enólogos mais famosos do mundo e degusta mais de 40.000 vinhos por ano. Possui uma propriedade em Bordeaux, o Château Fontenil em Fronsac, bem como possui parcerias de joint venture com Bonne Nouvelle na África do Sul, e com a Yacochuya em Salta, na Argentina.
Rolland na Argentina
Ele chegou à Argentina em 1988, convidado por Arnaldo Etchart, enólogo de Cafayate (Salta). Cafayate é uma pequena cidade, tão diferente de tudo que conhecia, que logo ele se apaixonou pelo lugar.
Lá, em Yacochuya, a mais de 2.000 metros de altitude, ele fez seu primeiro grande Malbec, com um caráter especial e muito marcante. Sua história na Argentina continua em Mendoza, onde ele escolheu o Vale do Uco, um lugar com um mosaico de terroirs que fazem deste vale um dos melhores do país para a viticultura. Foi onde a Família Rolland elegeu para construir sua própria vinícola, único lugar fora da França onde a família possui uma vinícola 100% própria e ainda é acionista do Clos de Los Siete, além de ser o criador desta realidade, que hoje vende 1 milhão de garrafas em 56 países.
A Bodega Rolland
Michel Rolland divide a responsabilidade pela administração de suas vinícolas com sua esposa, Dany Rolland, uma brilhante enóloga e sócia da vinícola. Dany é uma fonte de conhecimento, extremamente adaptável e capaz de aproveitar terroirs em vários continentes.
Stéphanie Rolland, uma de suas filhas, é quem administra todos os negócios da família, mesmo na Argentina. Por sua vez, Marie Rolland, sua filha mais nova, é responsável pelo design e imagem de todos os empreendimentos.
Junto com a família, e desde antes da construção da vinícola, trabalham os extremamente talentosos Magdalena e Rodolfo Vallebella (que já participou de um evento online do Blog Vaocubo). Ambos são enólogos e estão encarregados da gestão da vinícola, na Argentina.
A Degustação
No evento, realizado no restaurante El Tranvia do Itaim, optamos por realizar uma degustação às cegas, com os quatros ícones servidos lado a lado. O objetivo era dar oportunidade aos oito participantes de tentarem reconhecer as diferentes composições de cada vinho, bem como uma pequena variação entre as safras.
Todos os vinhos são microvinificados em barricas novas de carvalho francês e possuem teor alcoólico bastante considerável, acima de 16,0%. Decantamos todos por cerca de 90 minutos.
Conforme uma conversa com Rodolfo, o enólogo da Rolland, o potencial de guarda destes vinhos é enorme. Aliás o trabalho do casal Vallebella merece enorme destaque. Com extremo profissionalismo e dedicação eles são os responsáveis por produzir esses sonhos engarrafados em meio a uma extensa lista de outros ótimos rótulos, com destaque para o sensacional Val de Flores.
Como curiosidade, o nome dos vinhos são homenagens aos netos de Michel e Dany Rolland.
Abaixo minha análise dos vinhos. Mas, vale destacar que todos estiveram muito próximos, mostrando a altíssima qualidade desse quatros ícones:
Mariflor Camille 2010: a neta mais velha de Michel Rolland foi a grande campeã do evento, na opinião do grupo. Esse 100% Malbec com 24 meses de estágio em carvalho francês é uma bomba de frutas. Cor rubi intenso, aromas de frutas maduras, pimenta negra e chocolate. Em boca é potente e encorpado e não demonstra em nada seus mais de 10 anos. Vai muito longe. Nota V3 – 98 pontos.
Mariflor Arthur y Theo 2011: os gêmeos. Nessa safra, o vinho é um corte de 70% Malbec e 30% Syrah com passagem de 24 a 36 meses em barricas novas de carvalho francês. Aromas de frutas negras, especiarias e um toque floral. Em boca é rico e encorpado, com taninos envolventes e final longo e austero. Nota V3 – 97 pontos.
Mariflor Raphael 2013: a safra 2012 desse vinho, é na minha opinião um dos melhores Cabernet Franc da Argentina (se não for o melhor). Este 2013 também é ótimo mas está levemente abaixo do 2012. Corte de 85% Cabernet Franc e 15% Malbec com larga passagem em carvalho francês. Aromas herbáceos e florais, notas de couro. Em boca é mais elegante e com taninos mais finos, com notas de cereja madura e baunilha. Final persistente. Nota V3 – 96 pontos.
Mariflor Giulia 2017: a neta mais nova, está de fato bem nova. Esse é um corte de 40% Merlot, 30% Malbec, 25% Cabernet Sauvignon e 5% Petit Verdot com passagem de 24 meses em barricas novas de carvalho francês. Agradou muito quem gosta dos vinhos mais vivos e o corte está bastante equilibrado. Eu aconselho uns bons anos na adega, pois o vinho tem uma complexidade incrível e tem muito a evoluir. Chega a ser injusto compará-lo com os demais, visto que estão muito mais prontos. Talvez ele se torne o melhor de todos em mais alguns anos. Nota V3 – 95 pontos.
Com toda certeza, esse foi um dos melhores eventos do Blog!
Muito legal essa degustação a cegas, pelo visto estão todos no mesmo nível. O ideal e ter pelo menos uma garrafa de cada em casa.
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Sim. Todos muito próximos
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Foi uma noite incrível amigo Sitta! Inesquecível! Que venham outras dessa!!
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Vamos programar Toni
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Não conhecia a história de Rolland. Valeu, Sitta!
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Obrigado pela leitura
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Que degustação fantástica. Se eu morasse em SP não teria perdido.
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Fez falta! Quem sabe numa próxima
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Rodrigo, bom dia!
Mais uma excelente postagem, parabéns! Sou fã do blog.
Uma dúvida:
Nessas decantações longas, como a mencionada (90 minutos), como vcs fazem para o vinho não perder sua temperatura ideal?
Deixam o decanter na geladeira e retiram alguns minutos antes da prova?
Ou deixam decantar fora, mesmo que esquente?
Agradeço a orientação.
Abraço
att
Leandro Polette
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Oi Leandro. Vale qualquer coisa. Muitas vezes na geladeira.
Nesse caso, como estava no restaurante, uns 10 minutos antes de servir coloquei o decanter sobre o balde de gelo
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E muito obrigado por nos acompanhar!
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Poutz, esses são wish lists sempre. Estou com um Raphael 2012 na adega esperando a vez dele…..Sitta, como foi as cegas, alguém matou qual era cada um?
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Só um participante acertou todos. A grande maioria acertou 1 ou nenhum
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Belíssimo fight desse excelente produtor, parabéns meu amigo. 👍🏼🍀😃
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Foi sensacional. Espero que volte a participar logo
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Excelente artigo Sitta. eu tive o prazer de degustar esses vinhos (menos o Giulia) numa visita que fizemos à Bodega Rolland em 2019 e nos impressionou muito! Degustar agora novamente no evento foi sensacional!
Gostei desse desafio de provar o Giulia em alguns anos… Pode ser uma boa proposta para um novo evento!
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Que bom que gostou do evento. Foi um dos melhores.
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