Por Jackie Javkin
Existem vinhos que, pela sua concepção desde vinha até a garrafa, conseguem captar uma maior frescura no seu carácter. Esse post vai falar sobre quais são e como são feitos os melhores vinhos para desfrutar em qualquer estação do ano.
O frescor de um vinho é uma sensação que vai muito além da temperatura de serviço, alcançá-lo com naturalidade e equilíbrio não é uma tarefa fácil para os enólogos.
Sabe-se que cada vinho tem uma temperatura ideal de serviço: os brancos jovens e rosés a 8 graus, também os espumantes, enquanto os doces de colheita tardia e os brancos encorpados podem ser servidos entre 10 a 12 graus, e os tintos a partir de 14 graus para os mais novos e frescos e até 18 graus para os com mais corpo, não devendo ultrapassar essa temperatura.
Porque uma vez no copo e na boca, todo o vinho ganha rapidamente temperatura, e é sempre melhor esperar que aqueça no copo do que ter de o arrefecer depois de servido. Não pelo gosto e sim pela adaptação. No entanto, com o passar dos anos e a evolução do vinho, surgiram vinhos ideais para esta época do ano, que chamam a atenção não só pela sua diversidade como também por serem muito refrescantes.
Até ao final do século passado, havia poucos vinhos de alta gama (chamados de vinhos finos) e a maioria eram vinhos de mesa, que eram tomados diariamente e (quase) sempre refrescados com gelo e/ou refrigerante, em geral. Mas com a chegada do novo milênio, tudo mudou, e a necessidade de impressionar o mundo com os “novos” vinhos argentinos fez com que muitos produtores se voltassem para vinhos mais maduros.
Porque quanto mais madura a uva, mais potencial alcoólico é alcançado, e então na vinícola buscou-se mais concentração através de diferentes técnicas. Mas a uva, quando inicia seu ciclo de amadurecimento, é pura acidez e sem açúcar. É graças à fotossíntese que se geram os açúcares que permitirão posteriormente que o mosto fermente e assim se transforme em vinho.
O problema é que, na busca por maior amadurecimento, muitos se esqueceram de preservar a acidez natural. É por isso que esses vinhos são lembrados como vinhos impactantes e concentrados, maduros, poderosos e nada refrescantes.
Mas como tudo muda, os vinhos também mudaram. E muitos fabricantes notaram que esses vinhos de impacto atingiram seu objetivo até a primeira taça, mas a partir daí não foram além. Ou seja, em geral era difícil beber a garrafa, e a chave não estava no peso ou concentração do vinho, mas sim na falta de “frescura”.
Assim nascem os “novos” vinhos argentinos, mais frescos, que nesta época do ano (calor) se tornam os mais atraentes para desfrutar, especialmente ao ar livre.
Os novos vinhos argentinos mais frescos
Frescor não é apenas baixa temperatura de serviço. Porque um vinho servido à temperatura errada dificilmente será apreciado, para além de gostos particulares. O frio, assim como a anestesia, adormece as papilas gustativas e apazigua os ésteres aromáticos. Ou seja, nenhum dos seus atributos se faz sentir num vinho servido a baixíssima temperatura. Além disso, a temperatura correta melhora as texturas.
Mas para um vinho ser fresco são necessárias outras coisas, principalmente que o vinho tenha uma acidez natural marcada (entre 5 e 12 gr/l dependendo do tipo de vinho), mas sempre equilibrada. Isso também significa que o PH do vinho será baixo. Para isso, agrônomos e enólogos devem começar com uvas frescas, no máximo colhidas no ponto ideal de maturação. E embora a acidez possa ser corrigida pela adição de ácido tartárico (que também é natural), o equilíbrio não é o mesmo. Por isso é muito importante colher uvas com boa acidez natural para conseguir vinhos refrescantes.
As madeiras são menos invasivas e os volumes das barricas são maiores, precisamente para que o envelhecimento não ameace a frescura e o carácter primário dos vinhos, mas contribua com o seu. Depois, na vinícola, a produção também deve ser cuidadosa, sobretudo para preservar aquela vivacidade que vem da fruta, e que a vinificação deve preservar até chegar à garrafa. Para isso você tem que intervir o mínimo possível, sempre trabalhando em temperaturas controladas e em tanques de aço inoxidável ou vasos de cimento, sendo que os primeiros conservam muito bem os aromas primários das uvas, enquanto os segundos proporcionam texturas que contribuem para a sensação de frescura na boca.
Mas para além das castas e do tipo de vinho (branco, rosé ou tinto), existem técnicas específicas para conseguir vinhos mais vibrantes na boca e, portanto, que possam realçar ainda mais a sua frescura.
Uma delas é a maceração a frio. Sim, tanto faz se forem vinhos brancos, o contato com as películas a baixas temperaturas para evitar o início da fermentação alcoólica permite aos mostos ganhar componentes que vão dar textura e carácter ao vinho.
Depois de fermentados, alguns podem passar por estágio em barricas, mas notas tostadas ou amanteigadas pronunciadas não são mais procuradas, especialmente os vinhos brancos.
Os vinhos frescos, em geral, são pensados para serem consumidos jovens, além do fato de que hoje também é uma característica dos grandes vinhos argentinos. É verdade que existem variedades mais adequadas para isso porque seu ciclo de maturação é mais curto. Também que o clima de cada safra influencia. Por exemplo, das últimas safras, 2016 foi a mais apropriada, seguida por 2018 e 2019, e um pouco também 2021/2022.
Mas como já dissemos, em geral os vinhos refrescantes são consumidos jovens, de preferência um ou dois anos. Entre os brancos varietais destacam-se o Sauvignon Blanc e o Torrontés. Hoje, expoentes refrescantes também são alcançados a partir de variedades mais voluptuosas como Chardonnay, Semillón e Viognier, entre outras. No entanto, os produtores passaram a fazer blends brancos. Não é que seja uma novidade juntar duas ou mais castas brancas num vinho, mas é para vinhos que procuram ser vibrantes e perfumados, mas com um equilíbrio e corpo diferentes. Além disso, isso permite que os produtores sejam mais criativos.
Os rosés também têm se beneficiado nos últimos anos graças a esta tendência, deixando de ser um subproduto dos grandes tintos (vinhos de sangria) para se tornarem vinhos concebidos da vinha como qualquer outro. Assim, são concebidos rosés simples e diretos, mas também alguns mais pretensiosos, tanto no interior como no exterior, com mais corpo e pensados mais para as refeições do que como aperitivos.
Entretanto os vinhos mais recentes em termos de frescura, são os vinhos laranja, ou melhor dizendo, macerados. É uma técnica ancestral de fazer vinhos brancos em contato com a casca, como os tintos. Isso não apenas modifica sua aparência, dando-lhes tonalidades de cobre, mas também fornece texturas. Mas eles são sempre sustentados por uma espinha dorsal que é dada pela acidez natural.
Os laranjas verdadeiros chegam ao mercado depois de dez anos, enquanto as argentinos saem o mais rápido possível. O mais interessante destes novos vinhos é a sua frescura no paladar. Aqui não há variedade branca que não se adeque, mesmo muitos apostando na Crioula.
Por fim, há os tintos, mas não todos, apenas alguns. Geralmente vinificado em cubas de cimento para realçar aquelas texturas finas e quase ásperas que, a priori, secam a língua e contraem as papilas gustativas, que realça ainda mais o seu frescor natural. E rapidamente se tornam suculentos devido às reações químicas naturais que ocorrem na boca. Aqui todas as castas tintas são válidas, mas a que sempre ganha é a Malbec. Também a Cabernet Franc por estar na moda, a Bonarda por ser amplamente plantada (é a segunda variedade tinta atrás da Malbec) e diversas combinações que buscam chamar a atenção dos consumidores.
5 vinhos argentinos frescos para conhecer e provar
1- Puna Sauvignon 2600 Blanc – Bodega Puna, Cachi, Altos Valles Calchaquíes.
O Sauvignon Blanc cresce muito bem nas alturas extremas de Cachi, porque não só adquire um caráter distinto, mas também mantém o frescor e a graça típicos da vinha. Trata-se de branco com bom corpo, vivacidade e muito expressivo. Leves notas vegetais e florais, combinadas com potência. Com um paladar amplo e franco, ideal para a mesa ou para ser apreciado a copo.
*Silver International Awards Medalha Virtus 2021 Decanter World Wine Awards.
E-mail de exportação: puna@bodegapuna.com.ar
Site: http://www.bodegapuna.com.ar
2- 45º Rugientes Corte de Blancas 2018 – Otronia, Chubut, Patagonia,
Blend de Gewurztraminer (42%), Pinot Gris (26%) e Chardonnay (32%), com aromas integrados e austeros, bom volume e uma acidez marcada que faz parte do carácter. Há algo floral com notas de mel e uma frescura que persiste e acrescenta profundidade a cada gole. É daqueles brancos para servir e deixar exprimir-se no taça e ainda pode guardar por mais alguns anos.
*94 pontos Master of Wine Tim Atkin.
E-mail de exportação: maximo.rocca@otronia.com
Site: http://www.otronia.com
3- Decero Mini Ediciones Rose, Remolinos Vineyard, Agrelo, Lujan de Cuyo, Mendoza.
A safra de 2022 foi uma safra excepcional na Vinícola Remolinos. Eles tiveram um verão com temperaturas relativamente normais. Esta vindima caracterizou-se por ter um fevereiro chuvoso (112mm). Eles estavam alertas no cuidado das bagas para alcançar uma sanidade desejada. Em março e abril foram meses secos, contribuíram para a concentração e equilíbrio. As baixas temperaturas durante a primavera de 2021 resultaram em rendimentos mais baixos e boa acidez nas bagas. Vindima precoce e em condições climatéricas ideais em que se destacam as uvas de qualidade e de grande perfil aromático.
Decero Mini Ediciones Rose é um vinho de produção limitada feito com uvas Cabernet Franc. Este vinho é um verdadeiro reflexo da sofisticação da vinha de Remolinos. Este Cabernet Franc Rosé faz parte da linha Mini Ediciones, de variedades inusitadas e edição limitada. Apenas 1.846 garrafas foram feitas.
É um vinho elegante, fresco e delicado, com um nariz floral, cítrico e notas de pêssego. Na boca é equilibrado e com um final vibrante, com 12% de graduação alcoólica. Ideal para acompanhar com marisco fresco, queijos, saladas leves, pratos de peixe branco. Um expoente versátil que o convida a continuar a desfrutá-lo.
E-mail de exportação: alfredo.frigerio@decero.com
Site: http://www.fincadecero.com
4- Antonieta Rose, Los Chacayes, Valle de Uco:
Vinho leve, rosa pálido com notas de casca de cebola. No nariz, sua expressão é fresca, lembrando frutas vermelhas silvestres como groselhas e mirtilos, com notas de tangerina e maçãs verdes. Na boca é leve, corpo médio, notas doces bem equilibradas e uma acidez refrescante e suculenta que lhe conferem um final longo e muito persistente. É um fiel companheiro de ostras, bruschettas, burrata com tomates confitados ou como aperitivo.
Recordemos que a Falasco Wines é o projeto liderado pela quarta geração desta família que se dedica à produção de vinhos há mais de 83 anos, e que atualmente, sob a liderança de Franco Falasco se dedica à produção de vinhos de elevada qualidade.
*92 pontos Uncorked 2021
E-mail: mktlosharoldos@gmail.com
Site: http://www.familiafalasco.com
5- Appellation Gualtallary Malbec – Altos Las Hormigas, Gualtallary, Valle de Uco.
Um Malbec que fala do terroir, de uma interpretação daquele lugar, de um estilo fiel à bodega. Com aromas intensos, frutas vermelhas e ervas secas, paladar franco e ágil, bom volume e taninos firmes. A frescura integrada domina a sua passagem pela boca e realça as suas texturas finas. É um vinho moderno com fluidez, mas também com certo carácter e bom potencial de envelhecimento.
Desde 2006, Altos Las Hormigas produz vinhos de guarda e premium exclusivamente à partir de vinhedos plantados em solos calcários. Vale ressaltar que o calcário é um tipo de solo de origem eólica, rico em carbonato de cálcio, que é encontrado somente em uma pequena porcentagem dessa região. Em 2011, como resultado da pesquisa de terroir com Pedro Parra, foram adquiridos 55 hectares no Paraje Altamira, Valle de Uco. É uma propriedade com micro terroir no sudoeste do Valle de Uco a 1.1105 metros acima do nível do mar. Então, em 2017, eles plantaram o Jardín Altamira, um projeto vitivinícola que chama a atenção e que será falado nos próximos anos.
*95 pontos James Suckling 2022
E-mail de exportação: estefania.litardo@altoslashormigas.com
Site: http://www.altoslashormigas.com
Convido você a experimentar diferentes estilos de vinhos frescos da Argentina!
Excelentes vinos Jackiie. Cómo siempre acercando novedades.
Saludos desde Salta
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Muy buen artículo. Algunos ejemplares no los conocía, será cuestión de probar.
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what rich wines great note Jackie!
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Belíssima matéria! Não tomei nenhum desses vinhos ainda. Parabéns Jackie!
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Formidável a matéria e vou anotar as sugestões para provar. Parabéns!!!!!
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Excelente datoooos Jackie. Gracias!!
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Very good selection Jackie, always surprising with news. Greetings to all from USA
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Que gran historia la del malbec. Muchas gracias por compartir Jackie grandes ejemplares y el adentrarnos un poco más en el trabajo que se está realizando.
Salud por el malbec y está uva maravillosa.
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