Non-Vintage (NV) de Champagne

Por Renato Nahas

Podemos dizer, sem medo de errar, que o glamour na região de Champagne reside nas chamadas Cuvées Prestige, que aliás foi tema da  nossa última publicação aqui no VaoCubo (link abaixo). Porém, há muito mais o que investigar nesta região.

+ As Cuvées Prestige do Champagne.

Na coluna desse mês iremos explorar uma outra face do Champagne: os Non Vintage (não safrado, em português). Eles concentram o grande volume da região, nas pequenas e grandes marcas, e fazem dessa área uma grande potência econômica. Ao final, iremos listar alguns rótulos que ilustram os diferentes estilos do Champagne NV.

business Champagne

A produção de vinhos de Champagne é uma atividade importante no cenário econômico da França. Em 2021 o volume de vendas atingiu cerca de € 5,0 bilhões, o que fez que o vinho fosse a atividade mais relevante da região que empresta o nome.

Os números de Champagne impressionam. Ocupa apenas 4% da área cultivada de vinhedos na França com 34,3 mil hectares no total, mas representa 20% do total na receita oriunda de vinhos do país e 22% nos valores da exportação do setor. Os NVs representam cerca de 90% das receitas da região.

Busca de consistência

O propósito do Champagne “não safrado” é entregar consistência ao longo do tempo. Composto pela mistura de diferentes safras, o enólogo tem como desafio disponibilizar ao consumidor a mesma experiência, independente do ano em que é produzido.

Dessa forma, não faz muito sentido, num encontro de uma confraria, por exemplo, organizar uma vertical de uma determinada marca de um Champagne NV. A não ser se for para constatar se o enólogo foi capaz de fazer bem o seu trabalho, pois o que se espera é exatamente consistência ao longo das diferentes safras.

+ Como Verificar a Data de Produção dos Espumantes “Non-Vintage”.

Quando beber?

Também não faria sentido comparar os “NV” de diferentes safras, pelo simples motivo, de que eles não foram feitos para serem armazenados. Um “NV” deve ser consumido assim que engarrafado. Não significa que eles possuem uma data de validade curta, muito ao contrário. A questão é que um “NV” pouco se beneficiará com a guarda.

E nesse contexto, vale citar a Master of Wine Anne Krebiehl que escreveu o seguinte na Decanter Magazine de janeiro de 2021: “… um NV é recomendado para aqueles que pretendem manter uma garrafa na geladeira, em caso de uma necessidade inesperada…”. Se bem que no Brasil, vale dizer que o preço de um NV torna proibitivo essa “casualidade”, mas isso é uma outra conversa.

O fato é que, enquanto um Champagne Vintage (safrado) e um Cuvée Prestige ganham com a guarda, o mesmo não ocorre com os NV.

Cada produtor, um estilo

Num mundo em que todos os produtores de espumantes se espelham em Champagne – e poucos conseguem –  podemos dizer que há uma tipicidade nos vinhos produzidos nessa região. E dentro de Champagne, mesmo sabendo da tipicidade que envolve todos os seus vinhos, podemos dizer que há diferentes estilos.

E são diversas as variáveis que definem o estilo de um NV de cada produtor. O mais óbvio é o blend de uvas. Champagne admite sete variedades em sua formulação. Três delas, porém, dominam o cenário, respondendo pela imensa maioria da uva cultivada: Chardonnay, Pinot Noir  e Pinot Meunier.

Porém, na elaboração de seus vinhos, cada Maison é livre para escolher a composição do blend, podendo inclusive usar apenas uma delas.

Processo de vinificação

Além disso, há outras variáveis  no processo de vinificação que definem o estilo do NV produzido:

  • Reserva técnica – O NV é uma mistura de várias safras. A reserva técnica é o vinho armazenado ao longo do tempo por cada produtor e que será adicionado com a safra mais recente para ser engarrafado. Constitui num elemento fundamental para dar o “estilo da casa”.
  • Tempo de envelhecimento em garrafa em contato com as leveduras. Apesar da regulamentação definir um prazo mínimo, cada produtor é livre para envelhecer por um período superior.

Por fim, e talvez mais importante, é o terroir de origem do NV. A região de Champagne abriga quatro sub-regiões geográficas: Montagne & Val de Reims, Vallée de la Marne, Côte de Blancs e Côte de Bar. Cada uma dessas quatro sub-regiões subdividem-se em diferentes terroirs.

Alguns exemplos de Champagne NV com estilos de vinificação distintos

A lista de rótulos que iremos apresentar a seguir não tem a pretensão de ser exaustiva. Ela foi construída a partir da experiência pessoal do autor que, infelizmente (ou felizmente), até o momento foi capaz de provar apenas uma pequena parte dos rótulos da região.

  • Estilo redutivo, jovem e fermentado em tanque: Taittinger Brut Reserve NV e Ruinart R. Brut NV
  • Fermentado em madeira, com estilo mais oxidado: Boillinger Special Cuvée NV
  • Grande quantidade de reserva técnica com idade elevada: Charles Heidsieck Brut Reserve NV.
  • Champagne muito seco: Drappier Brut Nature NV e Pol Roger Brut Nature NV .
  • Sem fermentação malolática – Gosset Brut Reserve NV
  • Rosé elaborado através de maceração (apenas uvas tintas) – Laurent-Perrier Cuvée Rosé NV
  • Rosé feito através do blend de uvas brancas e tintas – Veuve Clicquot Rosé NV e Ruinart Rosé NV

São muito os estilos de Champagne NV e muitos motivos para, como diria Don Perignon, “beber estrelas”. 

Santé !

Renato Nahas é Sommelier formado pela ABS-SP e Professor nos cursos de Introdução ao Mundo de Vinho e Formação de Sommelier Profissional na ABS-Campinas. Obteve a Certificação Master Level em Borgonha, pela WSG, além da  FWS, IWS, SWS, CSW e WSET3. Além disso é Formador Homologado de Jerez.

6 comentários em “Non-Vintage (NV) de Champagne

  1. Professor, você poderia esclarecer no que se fundamenta o fato de que NV champagne não se beneficia de tempo em adega?
    Sei que o clima em Champagne é “marginal” e varia bastante de ano em ano, o que dá claramente uma vantagem às boas safras e Prestige Cuvees.
    Mas quanto ao tempo de adega, parece-me na verdade ser uma questão de preferência pessoal. Negar que haja mudanças no vinho me parece bastante simplista. Particularmente, eu noto uma variação positiva com meus NV quando adegados por 2 ou 3 anos. Refiro-me especificamente aos aromas secundários de melaço e avelã, além de uma percepção de melhor cremosidade e tostados. Na minha perspectiva, há melhor integração no vinho.
    Por fim, sempre questiono o ângulo do marketing nessa discussão. Vejo que aqui na América do Norte o consumo de champagne é bastante circunstancial, em que as pessoas compram com o fim especifico de comemorar uma data. Dessa maneira, o argumento publicitário (que eu descordo) que o vinho já chega às prateleiras no seu ápice para o consumo parece ser apropriado.
    Veja que meu comentário não tem como objetivo me opor ao que você escreveu, mas apenas buscar aumentar meu conhecimento técnico no tópico. Obrigado!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oi Aluisio, muito legal o seu comentário, alias seus comentárioS. Minha opinião sobre eles:
      1. Sem dúvida a preferência pessoal define o tempo de adega adequado. Concordo que há uma evolução, mas ela é menos pronunciada do que nos vintages. E o NV tem a ver com um padrão esperado do líquido. Ouvi uma vez do nosso amigo, e grande Mestre, Mazon que a Imperial da Moet (que ele adora) entrega sempre o que ele espera. E nesse caso, a falta de surpresa é uma grande vantagem … um dos melhores Champagnes que bebi foi um Don Perignon 1996 (em 2015). Um NV jamais aguentaria tanto tempo. Então o tempo de guarda deve ser visto nessa perspectiva.
      2. Outra coisa: eu já me dei muito mal com promoções de NV. Afora o fato do cuidado da com a armazenagem ser uma variável importante, é razoável supor que o tempo em garrafa também impacta.
      3. Sobre o argumento do Marketing – Acho que o importante é que é um desperdício abrir um Vintage jovem. Vamos perder o benefício da evolução (e pagar caro por isso). Já o NV pode ser guardado sim, mas como o salto esperado de qualidade com a evolução ser menor, pode muito bem ser aberto a qualquer momento.

      Enfim, longe de dizer se está certo o errado, essa é minha visão.

      Um grande abraço, meu caro !

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  2. Mestre Renato, belíssimo texto, como sempre. Parabéns!! Precisamos marcar um painel com essas suas sugestões para eu aprender com o Mestre e colocarmos o papo em dia. Afinal, com Champagne, nunca tem erro, né?? Parabéns novamente e um grande abraço.

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    1. Fala meu amigo. Estou fora agora, mas no final de junho a gente se encontra para botar o papo em dia …. E como o Sitta já se convidou a gente leva ele também. Afinal o ele é o nosso chefe aqui no blog ….

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