Two Hands Wines – História, Curiosidades e Degustação.

Por Priscilla Hennekam e Rodrigo Sitta

Hoje nós vamos falar sobre a Two Hands Wines, uma das principais vinícolas australianas e que foi o tema do primeiro evento presencial do Blog em 2023.

Aproveitando que a Priscilla trabalhou lá por um tempo, fizemos esse Post a la “Two Hands”. Ela ficou responsável por nos contar um pouco sobre a vinícola e eu falarei sobre a degustação.

Boa leitura!

Two Hands Wines – A vinícola que me deu a primeira oportunidade aqui na Austrália

A Two Hands Wines está localizada em Barossa Valley, que é uma das regiões viníferas mais famosas da Austrália. A primeira vez que provei os vinhos da Two Hands foi na Argentina, na aula sobre a Austrália, durante o curso de Sommelier que eu fiz na Escuela Argentina de Sommelier. E ainda lembro que a minha turma e eu ficamos impressionados com a qualidade dos vinhos.

Quando cheguei na South Australia, no primeiro dia que fui a Barossa Valley, a Two Hands estava na minha lista de visitas, super entusiasmada para provar novamente aqueles vinhos que ficaram na minha memória. Fui atendida por uma chinesa, super simpática, que hoje é uma das minhas melhores amigas na Austrália. Adorei a experiência e, por ter sido atendida por uma estrangeira, me deu a sensação de que essa brasileira aqui, mesmo sem falar inglês direito, poderia ter uma chance.

Estava procurando emprego pela internet e me aparece a Two Hands, com uma vaga para trabalhar com enoturismo. Eu falei pra mim mesma que aquilo não era coincidência, que eu deveria tentar, e tentei! Uma semana depois da entrevista fui contratada pela Two Hands, e nunca pulei tanto de felicidade como nesse dia, visto que a Two Hands era a vinícola que tinha toda a minha admiração e respeito.

O primeiro ano foi muito difícil, meu inglês era muito limitado, morria de medo de atender o telefone, saia correndo quando escutava o telefone tocar. Com os clientes era um pouco mais fácil, eu fazia gestos ou colocava na tradução do Google. Eu não tinha muitas palavras para descrever vinhos, mas como a maioria dos brasileiros, eu adoro dança e música, então comecei a descrever o vinho com as palavras que eu podia falar.

“Este vinho Yacca Block do Eden Valley é como ‘Tango’, mais elegante, e este vinho Holy Grail de Barossa Valley é como ‘Bossa Nova’, mais clássico.” E os australianos adoraram a maneira que eu descrevia os vinhos! Vendi tanto vinho que até recebi bónus no final do ano rsrsrs.

Um pouco sobre a vinícola

A vinícola Two Hands nasceu em setembro de 1999, quando os fundadores Michael Twelftree e Richard Mintz se sentaram durante a festa de noivado de um amigo e decidiram que era hora de fazer o seu próprio vinho. Por isso o nome Two Hands, as “mãos dos dois amigos”.

A primeira safra da Two Hands foi em 2000, após um modesto investimento de AUD 30.000 e começando com apenas 17 toneladas de uvas. A jornada havia começado.

Com o passar dos anos e com o incremento da produção de vinhos, inúmeros críticos passaram a elogiar a Two Hands, incluindo Robert Parker, que nomeou a vinícola como “o melhor negociante ao sul do equador”. Em novembro de 2012, a Two Hands foi nomeada no Top 100 anual da Wine Spectator pelo 10º ano consecutivo, uma conquista sem igual por qualquer vinícola em todo o mundo, até então.

Com isso, a demanda de seus vinhos em todo o mundo aumentou nos anos seguintes, à medida que os as vendas se expandiam para mercados de exportação em toda a Europa, Ásia, América do Norte e, claro, na própria Austrália.

Infelizmente Richard não faz mais parte da sociedade, e em 2015, Tim Hower, natural do Colorado, tornou-se a outra ‘Hand’ na jornada Das Duas Mãos. O amor de Tim pelo Barossa Valley o levou a adquirir vários vinhedos de excelente qualidade em toda a região e o colocou em contato com a Two Hands, culminando em seu investimento em fevereiro. Desde o envolvimento de Tim, a Two Hands conta com vinhedos adicionais, principalmente o vinhedo de Holy Grail em Seppeltsfield Road.

Como a população da Austrália é relativamente pequena, com pouco mais de 26 milhões de habitantes, e o país é o quinto maior produtor mundial com 5,5% do total, assim como as demais vinícolas, a Two Hands exporta a maior parte de sua produção (66,6%) para cerca de 65 países. Entretanto, aproximadamente 40% de sua produção era exportada para China, e desde 2020, quando a China colocou várias barreiras para a importação e comercialização de vinhos australianos, a vinícola tenta desenvolver novos mercados e ampliar os atuais.

+ A Batalha entre China e Austrália, quem vai ganhar?

O enoturismo da Two Hands é um dos melhores da região, oferecendo experiência de degustação, tour pelos vinhedos e muito mais. Se estão em Barossa Valley, não deixem de visitar a Two Hands, ainda tenho meus amigos trabalhando lá, e por isso posso garantir, que a experiência será fantástica.

A Degustação

No primeiro evento presencial de 2023, no restaurante El Tranvia do Itaim, provamos cinco dos principais rótulos da Two Hands.

Abaixo falamos um pouco mais sobre cada vinho:

Hell Freezes Over 2020: uvas 100% Chardonnay de Piccadilly Valley de um vinhedo de 33 anos de idade. Parte do vinho (70%) envelhece sobre as borras sem battonage em barricas grandes de carvalho (20% novo) por 12 meses. O restante (30%) envelhece pelo mesmo período em tanques de aço inox. Vinho de corpo médio, bom volume em boca, boa acidez e final médio. Nota V3 – 90 pontos.

Wanderlust 2020: o vinho é composto por uma maior parte de Cabernet Sauvignon de McLaren Valley com uma pequena proporção de Malbec, Cabernet Franc e Petit Verdot (de acordo com a safra). O envelhecimento acontece em barricas de segundo e terceiro uso. Vinho jovem, com enorme potencial. Pra guardar. Nota V3 – 91 pontos.

Holy Grail Shiraz Single Vineyard 2020: o ponto alto da degustação, o melhor da noite. Excelente Syrah de um vinhedo único localizado em Barossa Valley provenientes de vinhedos entre 5 e 19 anos de idade. O vinho passa 18 meses em barricas de carvalho francês de 1 a 4 usos. Combina potencia e elegância, com notas de frutas negras, taninos vibrantes e largo final. Nota V3 – 95 pontos.

Dave’s Block Shiraz Single Vineyard 2019: neste caso, uvas 100% Syrah de McLaren Valley provenientes de vinhedos de 50 anos de idade. O vinho passa 18 meses carvalho francês (30% inertes). Um pouco mais encorpado que o Holy Grail, taninos mais firme e alguma fruta em compota. Outro ótimo vinho. Nota V3 – 93 pontos.

Aerope 2015: o mais caro e mais velho da degustação, poderia (ou deveria) ter sido servido antes dos Shiraz, menos encorpado ficou um pouco apagado frente a vivacidade dos anteriores. Uvas 100% Grenache de Barossa Valley, passa 10 meses em pequenos tanques de concreto e 5 meses em barricas grandes de carvalho. Por final, 12 meses de estiba em garrafa. Bastante elegante, boa complexidade e final agradável. Nota V3 – 92 pontos.

Bons vinhos a todos!!

Priscilla Hennekam
Mora e trabalha com vinhos na Austrália, além de trabalhar para a vinícola InnVernia, no Brasil.
Cursando o WSET4.
Sommelier formada pela Escola Argentina de Sommelier e pela CETT em Barcelona.
Certificação de Sommelier pela Court of Master Sommelier dos EUA.
Instragram: @hennekamsommeliere
Website: www.hennekamwines.com

4 comentários em “Two Hands Wines – História, Curiosidades e Degustação.

  1. Evento maravilhoso!! Como sempre, o blog e seus colaboradores trazendo oportunidades exclusivas de conhecer produtores de peso e vinhos absolutamente maravilhosos. Parabéns ao Rodrigo e à Priscilla, pela concepção e execução. E muito obrigado pela oportunidade de estar com queridos e seletos amigos e conhecedores!!

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