Terroir São Paulo e Rio de Janeiro: Avanços e Inovações – Parte 1

Por Ivan Ribeiro

O Brasil tornou-se um verdadeiro celeiro e uma grande incubadora de vinícolas. E o sucesso não é por acaso, decorre de uma serie de fatores que contribuíram com esse crescimento vertiginoso no meio da viticultura, enologia e enoturismo,

Em primeiro ponto, temos a técnica da dupla poda, ou colheita de inverno, que fez possível a produção de vinhos de alta gama dentro de regiões onde as condições não favoreciam a criação de vinhos de qualidade com uvas viníferas, visto que elas não atingiam a maturação plena. Em outra vertente, a busca pelos vinhos nacionais, principalmente no período pós pandemia, tem sido grande. O brasileiro tem gostado de descobrir o Brasil de Vinhos e explorar os solos, regiões e os maravilhosos vinhos que estamos produzindo.

Assim ocorreu com São Paulo e Rio de Janeiro. Um cenário atual muito diferente do que retratei em 2020, quando escrevi alguns artigos falando desses dois Estados, das suas vinícolas, seus projetos e projeções. E isso não é uma situação apenas nesses dois Estados, mas também em tantos outros que vem seguindo a mesma frequência de crescimentos dentro desse setor.

São Paulo com suas rotas dos vinhos, e com diversos pontos de vinícolas novas surgindo, já conta com um potencial bem promissor e com um trabalho dentro do contexto geral que o avanço tende a ser cada vez mais intenso. Atualmente São Paulo conta com dois centros de Estudos de Enologia, além de algumas faculdades virtuais e presenciais. Mas, os destaques ficam por conta do IFSP – Campus São Roque, com seu Curso de Tecnologia em Viticultura e Enologia, com estágios e acompanhamento das vinícolas da Região, em especial da assessoria e amparo constante da Vinícola Góes.

Não podemos deixar de mencionar sobre o, recém lançado, Centro de Estudos de Viticultura e Enologia, que foi criado pela Prefeitura de Jundiaí junto com o Governo do Estado de São Paulo.

Nota-se o quanto de empenho São Paulo tem tido para qualificar, cada vez mais, sua mão de obra dentro da área de Viticultura e Enologia. Elementos que são indispensáveis para trazer mais qualidade nos produtos criados pelas vinícolas que tem crescido dentro do Estado, em todas regiões. Hoje, conforme levantamento feito em fevereiro de 2024, São Paulo contra com 92 municípios que informaram a existência de prática de Turismo Rural decorrente de áreas com produção de uvas, que condiz com a prática de Enoturismo. Uma crescente e gigantesca que demonstra um Estado retalhado com diversos vinhedos, já contabilizados (conforme mapa abaixo), além dos que certamente ainda estão por vir.

Nessa expansão grandiosa, onde grandes projetos foram ganhando mais força e reconhecimento, novos projetos estão chamando atenção dos entusiastas e amantes do Mundo do Vinho. Um lindo projeto constituído em Espírito Santo do Pinhal, chamado Vinícola AMANA e outro projeto sensacional pelas experiências apresentadas e que segue a tradição familiar enraizada pela historia da família, que é a Vinícola Lattarini, localizada em Santo Antônio do Jardim. Vamos conhecer um pouco mais sobre essas duas Vinícolas?

VINICOLA AMANA:

A história da Vinícola Amana nasceu de um sonho de um grupo de amigos que, em 2017, unindo a paixão pelo mundo do vinho e apostando na região que iriam investir, resolveram dar um passo rumo a um futuro que pulsa por grandiosidade em investimentos, tecnologia e grandes vinhos.

Trata-se de uma região de grande potencial, e de onde tem surgido grandes projetos de viticultura e enoturismo. E foi nesse terroir de Espirito Santo do Pinhal, numa área que corta as serras dividindo dois estados, São Paulo e Minas Gerais, que esse apaixonado grupo de amigos resolveu investir e produzir vinhos de altíssima qualidade. Assim surgiu a Vinícola Amana.

O nome Amana nasceu de uma homenagem que os fundadores da vinícola resolveram fazer às características únicas dessa região da Serra da Mantiqueira ou, Amana-Tykyra, que é o nome da Serra da Mantiqueira em Tupi. Um local abençoado com solos permeáveis de origem granítica, com dias ensolarados e noites frias que, juntamente com a aplicação da técnica da dupla poda, dão aos frutos um sistema perfeito onde a maior condição é de uma maturação completa das uvas, proporcionando as condições perfeitas na elaboração de vinhos de qualidade mundial.

Todos esses elementos unidos fazem da AMANA uma das vinícolas mais chamativas no momento. Seja pela qualidade dos vinhos que já estão encantando ao público e especialistas, ou pela forma de gestão e toda sua estrutura de receptivo, enoturismo e todo o mais que a envolve.

A Vinícola Amana é uma S.A. de capital fechado, que tem mais de 100 hectares de terras em três propriedades, distintas, de onde 11 hectares já são dedicados ao cultivo de uvas com predominância de castas francesas. Atualmente, já em produção plena, estão as castas Syrah, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Malbec, Sauvignon Blanc e Chenin Blanc.

Essas castas já dão uma produção que representa a atual  formação do portfólio dos vinhos da Vinicola Amana, que contem 8 rótulos, de uma produção iniciada em 2020 (primeira safra), e algumas outras surpresas, como alguns cortes que estão descansando na cave, aguardando o momento certo de ir ao mercado, são esses os vinhos, separados em duas linhas, a linha Amana e linha Una: Amana Chenin Blanc 2022. 100% CheninBlanc; Amana Sauvignon Blanc 2022; Amana Rosê 2022, 55% Syrah e 45% Chenin Blanc; Amana Sauvignon Blanc Una 2020, 100% Sauvignon Blanc e maturação por 5 meses em barricas francesas; Amana Syrah 2021; Amana Syrah 2022; Amana Syrah Una 2020 e Amana Syrah Una 2021.

Além dos vinhedos, a AMANA tem nas suas terras produção de cafés especiais, azeites com oliveiras fantásticas sendo cultivadas e uma vasta área de preservação ambiental com matas nativas.

Com um projeto sensacional e arrojado, a AMANA conta hoje com um centro de produção extremamente moderno e com capacidade para produzir até 200 mil garrafas por ano. Uma produção que era até 2023 realizada junto a Empresa Terra Nossa Enológica, sob o comando do Enólogo Chileno Cristian Sepulveda, passará de agora em diante a ser realizada na própria Vinícola AMANA. Unindo a expertise dos enólogos, atrelada aos equipamentos e tecnologia de ponta, somando aos bons frutos, que o resultado serão sempre vinhos de altíssima qualidade e inesquecíveis.

Hoje a AMANA é uma linda realidade que vem encantando e aquecendo os corações dos apaixonados pelos vinhos de excelência e pela beleza de sua estrutura e atendimento. Com projetos de Enoturismo também em atividade, a Vinícola Amana está de portas abertas para te receber e proporcionar uma experiência única, degustando vinhos excepcionais, acompanhado de um cardápio cuidadoso num ambiente único de uma arquitetura impactante, imerso nas encostas da serra da Mantiqueira… Só de imaginar você já se apaixona.

VINÍCOLA LATTARINI:

Um sonho, uma conquista, um desbravamento de um caminho regado pela esperança de novos tempos e novas possibilidades. Foi assim que, Ângelo Lattarini partiu da Itália, de sua terra natal na Lombardia, e veio para o Brasil com sua esposa e filhos.

Na mala,  trazia o sonho de fazer a América. De traçar um novo rumo, e enriquecer na agricultura sem passar, nunca mais, pelas privações que viviam na Itália, isso era fazer a América. Vencer e construir um futuro melhor e com mais qualidade para sua família.

Além dos sonhos e do desejo de vitória, Ângelo Lattarini carregava seus pertencer, roupas principalmente, que seriam inúteis por aqui e, também algumas sementes e um feixe de ramos de videira. Na mente a esperança de formar seu parreiral e produzir seu próprio vinho no Brasil.

Contudo, nem tudo foram flores, e o Brasil se mostrou igual a Itália, excetuando um inverno menos rigoroso. As videiras não vingaram, o sonho do vinhedo não se concretizou e, nas lavouras de café as gerações foram se sucedendo de colonos para meeiros, deste para “situante “ e hoje segue-se produzindo café. Um caminho que fez crescer e trazer, atualmente, cafés de altíssima qualidade.

Foram necessárias quatro gerações para que o sonho do vinho próprio fosse ressuscitado e o plantio das videiras acontecessem, um sonho crescente junto com o cafezal. Um caminho de 130 anos para que as primeiras garrafas do vinho dos sonhos fossem degustadas e comercializadas. Eis a América se concretizando. Sonho que vem representado no próprio rótulo dos vinhos, onde as ondulações simbolizam, além do relevo da Mantiqueira, trazem o passar do tempo, as gerações e a chegada dos vinhedos  

A vinícola leva o sobrenome deste lombardo que fez questão de registrar o primeiro neto, (Humberto do suco),no cartório e ao deixar sua assinatura tremida por mãos ásperas de laborioso agricultor, nunca imaginava ele que aquela sua assinatura 103 anos depois se tornaria a marca de uma vinícola e estamparia seus rótulos nesta bebida bíblica, a história se fez e os sonhos tornaram-se reais. 

Hoje a Vinícola Lattarini conta com 2 terroirs distintos, um em Santo Antonio do Jardim–SP e outro em Campestre-MG, Em São Paulo tem as seguintes castas sendo cultivadas: Syrah (desde 2021), Viognier (250 pés teste apenas e o 1/2 ha dela só entra em produção em 2025), Cabernet Sauvignon, Marselan, Malbec, Cabernet Franc (desde 2024), Pinot Noir, Petit Verdot e um blend em campo formado por Garnacha/Tannat/Syhah (produzirá em 2025). Desse terroir temos a Syrah com 1 ha cultivado, e os demais com talhões de 1/2 ha.

Ainda em São Paulo, tem em implantação uma área destinada as castas portuguesas, com 0,75 há e seis variedades que estarão em franca produção em 2026, são elas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Alfrocheiro, Trincadeira, Castelão e Tinta Barroca. E, um talhão de testes onde contam com 43 variedades em teste agronômicos e enológicos para dupla poda, sendo a maioria castas italianas . 

Já em Campestre-MG, tem cultivado a Syrah e um clone de Syrah australiano (Shiraz), que apesar de ser a mesma uva, vem dando vinhos com características completamente diferentes do clone de Syrah. E, Pinot Nero e Pinot Noir, com clones distintos para os espumantes e para os vinhos tranquilos. Ainda tem nessa parcela 12 variedades em testes e a Chenin Blanc e Alvarinho já com produção.

Toda produção da Vinícola Lattarini fica em Santo Antônio do Jardim, num barracão alugado, já que nesse primeiro momento houve a opção de serem priorizados os investimentos em campo e equipamentos, do que na construção da cantina em si. No entanto, todo o projeto já existe para implantação da cantina e do receptivo. O receptivo deve ser inaugurado ainda esse ano, atendendo toda a parte de Enoturismo que já está ativa e recebendo clientes com agendamento prévio.

Além dos belíssimos vinhos que já estão sendo produzidos, a Vinícola Lattarini conta com produção de excelentes cafés, que ganharam força  e mercado desde 2020, com cafés especiais e dentro de 4 variedades em quatro tipos de torras, são eles: Mundo Novo, Catuai, Arara e Bourbon, em ordem nas fotos abaixo. 

E suas torras que podem ser: Clara, Média, Escura e Extra forte (café gourmet).

Márcio Lattarini conta que: “no café existe um erro hoje no mercado que é classificá-lo como forte ou não pelo grau de torra. O que a torra determina é o grau de amargor e não de fortidão do café. Assim como o vinho a matéria prima é que determina o que pode dar no final cabendo ao mestre de torras (assim como o enólogo) saber conduzir o processo e extrair o melhor para o produto . Boa matéria prima, bem feita a torra prevalece as boas características do produto se errar estraga.”.  

Essa é a Vinícola Lattarini que vem trazendo vinhos que encantam em todos os aspectos. Vinhos únicos carregados de alma e amor na produção de excelência. O mesmo ocorre nos cafés e na pequena produção de azeites que estará disponível em 2025 e está sendo cultivada em Campestre por causa da altitude e o micro clima que favorecem bastante a produção. 

Em breve falaremos dos novos projetos do Rio de Janeiro, até breve!

Ivan Ribeiro do Vale Junior.
Advogado / Sommelier / Professor / Escritor
WSET / ISG / FACSUL / UFRGS
@duvalewinetasting

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