Desafio Bolgheri x Montalcino

Amigos,

Vamos falar de mais um evento do Blog! Desta vez falaremos de um desafio muito interessante entre alguns dos mais prestigiados rótulos de Montalcino frente a alguns dos mais reconhecidos vinhos de Bolgheri.

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O evento que aconteceu no Vinheria Percussi, há alguns dias, foi acompanhado por ótimos pratos da culinária italiana. Mas, antes de falarmos sobre o resultado, vamos conhecer alguns detalhes das regiões desse desafio:

DOC Bolgheri

Bolgheri é uma pequena cidade localizada a cerca de 8 km da costa da Toscana. Tem menos de 200 habitantes e é oficialmente apenas uma fração da Comuna de Castagneto Carducci. Entretanto, algumas das vinícolas mais famosas da Itália ficam a oeste da cidade, tornando Bolgheri uma meca para os amantes de vinho.

Bolgheri

A história moderna de Bolgheri começou no final da Segunda Guerra Mundial, quando o marquês Mario Marisa teve a ideia de plantar uvas Cabernet Sauvignon em sua propriedade, em uma área conhecida apenas pelos vinhos Sangiovese e Trebbiano. Gostando dos resultados, ele plantou seus vinhedos do Sassicaia com Cabernet Sauvignon no início dos anos 60. Juntando-se ao cunhado Nicolò Antinori e ao enólogo Giacomo Tachis, Incisa melhorou seus vinhos Sassicaia durante a década de 1970 e ganhou fama internacional, colocando Bolgheri no mapa do mundo do vinho.

Em 1983, Bolgheri foi estabelecido como um DOC, apenas para vinhos brancos e rosados. Os vinhos tintos da região, incluindo Sassicaia, não foram reconhecidos pela disciplina da denominação e continuaram se qualificando apenas para o status Vino da Tavola. O absurdo de Sassicaia ser equiparado às legiões de vinhos de mesa medíocres deu origem ao conceito de vinho “Super-Toscano”, um vinho dissidente de grande criação, mas que vive fora do estabelecimento.

A reputação de Sassicaia atraiu outros produtores de vinho interessados ​​em explorar as possibilidades que a Incisa havia demonstrado e em produzir ótimos vinhos principalmente com uvas francesas. As regras do DOC foram finalmente revisadas em 1994 para abranger os vinhos tintos baseados em Cabernet, e Sassicaia recebeu um status especial de subzona do DOC Bolgheri. As últimas mudanças em 2013 avançam um pouco mais, retirando Sassicaia do DOC Bolgheri e estabelecendo-o como um DOC por si só: o DOC Bolgheri Sassicaia.

O Bolgheri DOC permite a produção de vinhos brancos, rosatos e tintos. Os brancos podem ser um Bianco misturado ou Sauvignon Blanc ou Vermentino misturado. O rosato e os vinhos tintos podem conter até 100% de Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon ou Merlot, sozinhos ou em combinação, junto com até 50% de Sangiovese e / ou Syrah e Petit Verdot. Os tintos devem envelhecer por cerca de um ano e, se envelhecerem por dois anos com pelo menos um ano em carvalho, poderão ser rotulados como Superiore.

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É importante notar que boa parte das vinhas de Bolgheri ainda é relativamente jovem. Isso significa que o nível de qualidade da produção atual só pode continuar melhorando ao longo do tempo com uma maior idade da vinha. É por esse motivo que a imprensa internacional afirma unanimemente que Bolgheri ainda tem um potencial “gigante” a expressar.

DOC Montalcino

A origem do nome Montalcino está envolta em mistério. Pode vir de Mons Lucinus, o nome latino para o monte de Lucina, em homenagem à deusa romana. Outros, em vez disso, vinculam o nome a Mons Ilcinus (Monte dos Lecci, italiano para azinheiras). A imagem de três azinheiras no brasão da cidade de Montalcino sugeriria a última teoria.

O terroir de Montalcino oferece ótimas condições para a produção de vinho de alta qualidade. Achados arqueológicos que datam da era etrusca sugerem que o vinho é produzido aqui há mais de dois mil anos.

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O pai fundador de Brunello di Montalcino foi Clemente Santi. Em 1869, sua safra de 1865 recebeu uma medalha de prata pelo Comitê Agrário de Montepulciano. Nos anos seguintes, este Brunello recebeu outro reconhecimento internacional significativo e foi preferido ao vinho francês, mesmo em Paris e Bordéus.

Com a introdução da denominação de qualidade DOC (Denominação de Origem Controlada), Brunello subiu para a classificação dos oito vinhos italianos mais importantes com essa designação. Em 1966, tornou-se um vinho DOC e, um ano depois, o Brunello Consortium foi fundado. Em 1980, foi o primeiro vinho a se tornar DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), uma designação superior para vinhos selecionados na Itália com um selo específico do governo.

Brunello di Montalcino foi reconhecido como um vinho de DENOMINAÇÃO DE ORIGEM CONTROLADA E GARANTIDA com o Decreto Presidencial: D.P.R. 1/7/1980, e várias modificações ocorreram posteriormente. As regras estabelecidas em vigor nos regulamentos disciplinares de acordo com o Decreto de 19/5/1998 são as seguintes (em inglês, para evitar falhas na tradução):

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Degustação:

Sem dúvida que alguns poderão entender que este não foi um desafio muito justo: vinhos de safras diferentes e preços diferentes mas, acima de tudo, o objetivo do evento foi criar uma experiência sensorial entre os diferentes terroirs. E acho que isso foi de fato alcançado!

O grande campeão foi um vinho de Bolgheri seguido por dois vinhos de Montalcino, em um desafio bastante equilibrado. Como nos eventos anteriores, o serviço foi feito em filghts, com um vinho de cada região, exceto pelo último flight com dois super ícones de Montalcino.

1° Flight – Guado al Tasso 1997 x Bunello di Montalcino Poggio al Vento Riserva 2006:

Do primeiro flight já saiu o grande campeão da noite! O representante de Bolgheri estava perfeito e em seu auge, com aromas secundários e terciários, boa complexidade em boca e final aveludado. O Brunello, apesar de muito bom, foi o sétimo colocado no desafio e mostrou que ainda tinha longa janela pela frente.

Guado al Tasso 1997: nessa safra é um corte de Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah com 18 meses de estágio em carvalho francês e 12 meses de repouso em garrafa.

Brunello di Montalcino Poggio al Vento Riserva 2006: uvas 100% Sangiovese Grosso com passagem de 48 meses em grandes barris de carvalho e mais 36 meses em garrafa antes de ser liberado para vendas.

2° Flight – Gaja Ca’Marganda Magari 2011 x Brunello di Montalcino Conti Costanti Riserva 2010:

Neste flight apareceu a maior surpresa do evento, o Conti Costanti Riserva que ficou em terceiro lugar à frente de outros vinhos muito mais famosos e mostrou que a safra 2010 de Montalcino é absolutamente espetacular. Já o Gaja, o vinho mais simples do evento, ficou em sexto lugar.

Ca’Marganda Magari 2011: corte de 50% Merlot, 25% Cabernet Sauvignon e 25% Cabernet Franc com passagem de 18 meses em carvalho francês de primeiro e segundo uso.

Brunello di Montalcino Conti Costanti Riserva 2010: uvas 100% Sangiovese com afinamento de 18 meses em carvalho francês e mais 18 meses em grandes barris de carvalho com 24 meses de repouso em garrafa.

3° Flight – Sassicaia 2014 x Brunello di Montalcino Casanova de Neri Tenuta Nuova 2010 x Brunello di Montalcino Biondi-Santi 2008:

O filght mais equilibrado com grandes ícones italianos. O Sassicaia é de uma safra não muito favorável na Itália mas esteve melhor que a última garrafa que abrimos desta safra e ficou em quarto lugar. O Casanova di Neri é da safra de 2010 (já falamos acima) e tem 100 pontos de Robert Parker e longo potencial de evolução, foi o segundo colocado com muitos méritos. O Biondi-Santi mostrou-se muito jovem e pede anos de adega, ficou em quinto lugar.

Sassicaia 2014: corte de 85% Cabernet Sauvignon e 15% Cabernet Franc com passagem de 24 meses em carvalho francês.

Brunello di Montalcino Casanova de Neri Tenuta Nuova 2010: uvas 100% Sangiovese com passagem de 30 meses em carvalho e afinamento de 18 meses em garrafa.

Brunello di Montalcino Biondi-Santi 2008: uvas 100% Sangiovese Grosso com envelhecimento de 36 meses em barris de carvalho esloveno e 4 meses em garrafa.

Fontes:
http://www.bolgheridoc.com/bolgheri/en/home/

Bolgheri DOC


https://www.consorziobrunellodimontalcino.it/en/583/wines#586-anchor

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