Vini Veri: Os Vinhos Naturais sem Defeitos

Por Alessandro Calbucci

A Vini Veri celebra 20 anos.

A comuna de Cerea, no Vêneto, na Itália, foi a sede da feira Vini Veri, uma das principais associações de vinhos naturais da Itália e da Europa. O evento aconteceu entre os dias 12 e 14 de abril deste ano.

Um evento próximo geograficamente do Vinitaly embora muito longe conceitualmente.

A Vini Veri nasceu há 20 anos atrás, graças aos fundadores Paolo Bea, Stanko Radikon, Fabrizio Niccolaini (Az. Massa Vecchia) e outros que quiseram defender a ideia de produzir vinho respeitando os ciclos naturais. O consórcio tem uma regra simples e que todos os produtores devem seguir no campo: excluir a utilização de produtos de síntese e geneticamente modificados. Na cantina recomenda-se a utilização de leveduras indígenas, nenhum controle de temperatura e utilização mínima de SO2 (80 mg para vinhos secos e 100 mg para vinhos doces). Além disso, regras adicionais descritas abaixo devem ser observadas.

A participação nessa feira é relativamente barata com ingressos vendidos a 35€, disponibilidade de água mineral gratuita, em garrafas de vidro e possibilidade de adquirir os vinho na loja coletiva com valores moderados.

Participaram mais de 150 produtores, principalmente italianos, mas também da Eslovênia, França, Espanha e Áustria.

Experimentamos em torno de 160 vinhos de mais de 30 produtores. Um fio condutor: vinhos limpos, sem defeitos, exceção a alguns vinhos com níveis de acidez volátil um pouco superior às médias convencionais.

Tudo isso é uma reposta ao Manifesto que a Vini Veri e o jornalista Sandro Sangiorgi publicaram em 2022, intitulado LA FORMA E LA SOSTANZA: luci e ombre. Nesse documento se condena o perigoso equívoco que estava se difundindo no meio da comunidade dos vinhateiros naturais de aceitar o “defeito” como características dos vinhos naturais. A permissividade e a falta de competência técnica estava se tornando um hábito que separou forma e substância. A Vini Veri condena a indulgência perante defeitos e falhas nos vinhos, exigindo uma competência suprema para permitir aos vinhos de não esconder os seus terroirs de origem.

No meio de todos esses produtores sublimes se destacaram os pioneiros como Paolo Bea, referência absoluta para o Sagrantino di Montefalco, Vodopivec e sua Vitovska, ACI Urbis e Suman da Eslovênia, Ca de Zago e seus Proseccos refermentados, Zampaglione e o seu fabuloso Fiano Don Chisciotte. Ótimos também os Crémants da Alsácia do mestre Jean Claude Beucher e as castas autóctones do Trentino, exaltadas por Eugênio Rosi com uma delicadeza única.

Terminamos a nossa visita com uma grande Masterclass ministrada por Sandro Sangiorgi sobre os vinhos naturais ao longo do tempo: como o fator tempo interage com os grandes vinhos naturais. A longevidade não deve ser considerada um valor absoluto, visto que existem vinhos que resistem ao tempo, mas não evoluem e existem alguns vinhos que graças aos seus talentos são capazes de evoluir e se mover ao longo dos anos.

Durante a aula, tivemos a oportunidade de experimentar 8 vinhos únicos, memoráveis e que mostraram como o tempo pode se tornar um grande amigo dos vinhos naturais.

Saímos desta feira com a convicção que o vinho bom tem que ser natural e que os vinhos devem ser absolutamente bons, limpos e tecnicamente intransigentes. Uma grande lição para os produtores e para os apreciadores dos vinhos naturais.

Alessandro Calbucci
Wine Researcher and Beachtennis Ambassador

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