Curriculum Vitae Douro (CV) – História, Curiosidades e Degustação Vertical

Olá,

O último evento presencial do ano, realizado no restaurante Mestiço da Vila Nova Conceição, teve como tema o vinho Curriculum Vitae Douro (CV), da Van Zeller & CO. Durante o evento provamos o CV branco safra 2016 e uma vertical de CV tinto, com seis safras, desde 2004 até 2016. 

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A história da vinícola e principalmente de seu mentor Cristiano Van Zeller, passa por algumas outras vinícolas de Portugal. Abaixo vamos contar parte dela e muitas curiosidades sobre o projeto e sobre esse surpreendente vinho, um dos grandes do Douro.

História e Curiosidades

Os van Zellers saíram dos Países Baixos (Holanda) por questões políticas e religiosas. Como católicos, chegaram a Portugal e fixaram-se no Porto como comerciantes de Vinho do Porto. Através de laços familiares, os van Zellers estão ligados ao Douro e à produção dos seus vinhos desde 1620.

Os van Zellers continuaram no negócio do Vinho do Porto através de outras empresas: Quinta de Roriz e Quinta do Noval. Foi na Quinta do Noval que as novas gerações exploraram métodos inovadores nos vinhedos e diferentes estilos de Vinho do Porto. Estes incluíam videiras não enxertadas, que deram lugar à criação de um dos vinhos mais famosos do mundo: o 1931 Quinta do Noval Porto Vintage; o nascimento dos Tawnies envelhecidos (10, 20, 30 e mais de 40 anos) e Vinhos do Porto Late Bottled Vintage.

Luís Vasconcelos Porto (bisavô de Cristiano van Zeller) comprou a Van Zellers & Co. Cristiano, que representa a 14.ª geração da família no negócio, recuperou a Van Zellers & Co tornando-a uma empresa independente em 1989. A Van Zellers & Co continuou nas mãos do primo de Cristiano, após a venda da Quinta do Noval à AXA Millésimes.

Foi em 1996 que Cristiano e Joana (sua esposa) criaram a marca Quinta Vale D. Maria, depois de terem comprado a propriedade da família de Joana. A vinícola tornou-se, de imediato, num dos principais produtores de vinhos de referência no Douro e em Portugal.

Em 2003, Cristiano van Zeller e Sandra Tavares da Silva (enóloga da Quinta Vale D. Maria no Douro) encontraram uma vinha muito antiga, escondida nas profundezas do vale do rio Torto. Chegar até ela foi uma aventura em si, fazendo lembrar a aqueles com imaginação mais fértil os desafios do Indiana Jones. A vinha está voltada para o Norte e contém mais de 20 castas. Os vinhos resultantes das uvas ali cultivadas são extraordinários, algo que Sandra e Cristiano sentiram que iria enriquecer o seu próprio CV (ou currículo). E assim nasceu um dos vinhos portugueses mais icónicos: Curriculum Vitae Douro Tinto (CV).

Vale ressaltar que a Van Zellers & CO faz parte do projeto Douro Boys, que reúne cinco das mais prestigiadas vinícolas do Douro: Quinta do Vallado, Quinta do Crasto, Quinta do Vale Meão, Van Zellers & Co. e Niepoort.

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Em 2007, Cristiano recebeu um telefonema do seu primo João. Ele viu em Cristiano a pessoa certa para dar continuidade à empresa da família e ofereceu-lhe as marcas VZ e Van Zellers como presente de Natal. Cristiano começou a reabastecer aos poucos a empresa com vinho do Porto e acrescentou os vinhos Curriculum Vitae Douro ao portfólio.

Em 2013 Francisca van Zeller, a filha mais velha de Cristiano e Joana, começa a trabalhar no departamento de marketing e vendas. Francisca toma rapidamente conhecimento dos mercados e, ao mesmo tempo, conclui o curso de enologia e viticultura. A sua paixão continua a ser contar as histórias do Douro, das sua gente e dos seus vinhos.

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Após a venda da Quinta Vale D. Maria à Aveleda S.A. em 2017, Cristiano e Joana agora dedicam-se em tempo inteiro à
Van Zellers & Co. Em 2019 a empresa tem em estoque 40% dos Vinhos do Porto Tawny mais antigos, 15 hectares de vinhedos de vinho tinto nos vales do Torto e Pinhão e 1 hectare de vinhedo de vinho branco em Murça.

A Degustação

Inicialmente provamos o CV Branco 2016. Na sequência, em um único flight, provamos o CV Tinto nas safras 2004, 2006, 2009, 2011, 2015 e 2016.

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O CV Douro Branco é proveniente de uma parcela única, field blend de várias castas, predominando o Rabigato, mas onde também se encontram variedades como o Samarrinho, Donzelinho Branco, Viosinho, Codega e Gouveio, com uma idade média de 80 anos. Estagia em barricas de carvalho francês de 225 litros durante cerca de 8 meses, com battonage.

O CV Douro Tinto provém de uvas tintas cultivadas em vinhas com mais de 90 anos de idade no Rio Torto com uma face norte, leste e noroeste. Trata-se de um field blend com mais de 25 variedades diferentes incluindo: Rufete, Tinta Amarela, Donzelinho Tinto, Tinta Francisca, Sousão, Touriga Franca, Tinta Roriz, e Touriga Nacional, entre outras. Envelhecimento em barricas novas (75%) e com um ano de idade (25%) de carvalho francês, durante cerca de 22 meses.

Abaixo, nossa avaliação dos vinhos degustados:

CV Branco 2016: talvez tenha sido a garrafa, mas fomos surpreendidos por algumas notas oxidadas. A cor do vinho também indicava um certo envelhecimento precoce. Deixou a desejar, visto que a expectativa era enorme e foi minha primeira prova deste vinho. Nota V3 – 89 pontos.

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CV Tinto 2004: o mais antigo da degustação ainda estava perfeito (quase 20 anos) e foi um dos melhores da noite. Acredito que ainda tenha um potencial de adega de pelo menos 5 anos. Mas, para quem gosta de vinhos mais vibrantes, é hora de abrir. Nota V3 – 95 pontos.

CV Tinto 2006: na mesma linha do 2004, talvez um pouco mais envelhecido. já tinha algumas notas terciárias como tabaco e couro. Taninos aveludados e final persistente. Nota V3 – 94 pontos.

CV Tinto 2009: impressionante a consistência das safras. Essa estava com boa complexidade, notas de frutas vermelhas, ameixa e um leve mentolado. Ainda tem bons anos pela frente. Nota V3 – 94 pontos.

CV Tinto 2011: o campeão do evento. Já havia sido um dos melhores vinhos do nosso desafio Douro x Alentejo 2011 (link aqui). Um vinho vibrante, com taninos finos, ótima estrutura, muita elegância e largo final. Pra abrir ou para guardar. Nota V3 – 96 pontos.

CV Tinto 2015: Mesmo com diferença de mais de 10 anos para a safra 2004, já estava pronto, apesar de demonstrar uma capacidade de evolução. Vinho firme e encorpado com as nuances típicas do Douro e final persistente. Nota V3 – 94 pontos.

CV Tinto 2016: a safra mais jovem da degustação também foi uma das melhores da noite. Os dois extremos em segundo e terceiro lugar, o que também reflete, obviamente, o perfil diferente dos participantes da degustação. Tudo para ser uma das grandes safras da história. Guardar. Nota V3 – 95 pontos.

Bons vinhos a todos e que o próximo ano seja repleto de eventos como esse!

Feliz 2023!

Fontes:
www.vanzellersandco.com

2 comentários em “Curriculum Vitae Douro (CV) – História, Curiosidades e Degustação Vertical

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